A direção nacional do PT deve repassar mais recursos para a campanha do candidato do PSOL em São Paulo, Guilherme Boulos, que enfrentará no segundo turno o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Na fase inicial da disputa, já foram transferidos quase R$ 30 milhões. A nova leva deve ficar na casa dos R$ 10 milhões, segundo dirigentes. A campanha de Boulos é considerada prioritária pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Os cálculos ainda estão sendo feitos. Antes de mandar dinheiro ao aliado, o PT quer garantir que os 13 candidatos do partido que estão no segundo turno tenham garantido o teto permitido pela Justiça Eleitoral para cada campanha. Essa quantia varia de cidade para cidade.
A direção petista reservou uma parte dos R$ 619,8 milhões que recebeu do fundo eleitoral para ser usada no segundo turno. Dos R$ 65 milhões arrecadados pela campanha de Boulos até agora, R$ 35 milhões vieram do PSOL, e R$ 29,2 milhões do PT. O restante tem como origem doações de pessoas físicas.
O limite de gastos máximo permitido na eleição de São Paulo no segundo turno é de R$ 26,9 milhões. As transferências de recursos do PT para Boulos no primeiro turno foram feitas por meio de sua vice, Marta Suplicy, que é petista. Uma resolução aprovada pela direção petista proíbe o repasse direto a aliados de outros partidos. A quantia transferida para Marta também pode ser contabilizada dentro da cota de 30% do fundo eleitoral que deve ser reservada a mulheres.
Divergências no primeiro turno
As transferências de recursos para a campanha de Boulos geraram resistência no PT no primeiro turno. O secretário de Relações Internacionais do partido, Romênio Pereira, chegou a escrever uma carta no começo de setembro em que relatava ter sido surpreendido com os repasses.
Pelo relato de Romênio, uma reunião para deliberar sobre o assunto estava marcada para acontecer no dia 9 daquele mês, mas o envio do dinheiro aconteceu antes disso. O dirigente cobrou transparência da direção. “Decisões unilaterais desse tipo não apenas desrespeitam nossa democracia interna, como também contrariam as resoluções que aprovamos sobre a distribuição do fundo eleitoral. É inaceitável que uma decisão tão relevante, que afeta todos os membros do partido e nossas estratégias eleitorais, tenha sido tomada sem o devido debate e deliberação na instância competente”, afirmou.
Em carta de resposta a Romênio, a tesoureira do PT, Gleide Andrade, argumentou que o debate sobre o valor a ser repassado a Boulos teve a participação do diretório nacional e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Todos aqui sabemos da importância política da eleição do Boulos.Ganhar a maior capital do país é fundamental para nosso projeto político a longo prazo, e sobretudo para 2026. O acordado com a campanha foi de uma contribuição deste valor.”
No fim da carta, Gleide, ironizou a cobrança por transparência feita por Romênio: “Que bom que temos o TSE para que todos e todas possam fiscalizar as doações e checar exatamente para onde os recursos estão sendo destinados, nada como ter transparência na aplicação dos recursos partidários”.
De forma reservada, dirigentes petistas admitem que as chances de vitória de Boulos sobre Ricardo Nunes são remotas, mas argumentam que é necessário fazer uma campanha forte para afastar o risco de uma derrota muito ampla, que poderia significar desgaste para Lula. O presidente bancou o apoio do PT ao candidato do PSOL e patrocinou a volta de Marta Suplicy ao partido para ser a vice da chapa.