Um bombardeio israelense no domingo contra uma área designada para deslocados em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, deixou pelo menos 45 mortos, segundo um balanço atualizado divulgado nesta segunda-feira (27) por autoridades do território palestino, governado pelo movimento islamista Hamas.
O bombardeio aconteceu no âmbito da ofensiva de Israel contra o Hamas, que começou há mais de sete meses, devido ao ataque do grupo islamista contra o território israelense em 7 de outubro.
A ação israelense foi condenada por Egito, Jordânia, Kuwait e Catar.
Além disso, o governo do Catar, que atua como mediador ao lado dos Estados Unidos e do Egito para tentar obter uma trégua do conflito e a libertação dos reféns que permanecem sob poder dos islamistas na Faixa, advertiu que o bombardeio pode “prejudicar” as negociações.
“O massacre de ontem em Rafah deixou 45 mártires, incluindo 23 mulheres, crianças e idosos. Outros 249 ficaram feridos”, afirmou o Ministério da Saúde do território palestino em um balanço atualizado.
Funcionários da Defesa Civil de Gaza afirmaram que viram diversos corpos “carbonizados” pelo incêndio provocado pelo bombardeio.
Imagens divulgadas pelo Crescente Vermelho palestino mostram cenas caóticas dos profissionais da saúde tentando retirar os feridos, incluindo crianças.
“Nós havíamos terminado a oração da noite (…) nossos filhos estavam dormindo, de repente ouvimos um grande barulho, vimos fogo por todos os lados. As crianças gritavam, o barulho era assustador”, disse uma sobrevivente que pediu para não ser identificada.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha informou que um de seus hospitais de campanha estava recebendo um grande “fluxo de feridos em busca de atendimento para lesões e queimaduras” e que suas equipes estavam “fazendo todo o possível para salvar vidas”.
Imagens registradas por equipes da AFP na manhã desta segunda-feira mostram pedaços carbonizados de barracas e famílias palestinas observando a destruição.
O Exército israelense informou que seus aviões atingiram “uma instalação do Hamas em Rafah”, em um ataque que matou Yassin Rabia e Khaled Nagar, dirigentes do grupo islamista na Cisjordânia ocupada.
Também afirmou que estava “a par dos relatos que indicam que, em consequência do impacto e das chamas, vários civis na área ficaram feridos”. “O incidente está sendo investigado”, completou uma nota militar.
Após o bombardeio, o Hamas convocou os palestinos para uma “marcha contra o massacre”.
“Violação perigosa”
O Egito denunciou um “ataque contra civis indefesos” e a Jordânia acusou Israel de cometer “crimes de guerra”.
O Kuwait afirmou que o ataque demonstra os “flagrantes crimes de guerra e o genocídio” cometidos por Israel, enquanto o Catar chamou o bombardeio israelense de “violação perigosa do direito internacional”.
O ataque aconteceu algumas horas após o braço armado do Hamas disparar foguetes contra a cidade israelense de Tel Aviv e outras áreas do centro do país, “em resposta aos massacres sionistas contra civis”.
As defesas aéreas israelenses derrubaram a maioria dos foguetes e nenhuma vítima foi registrada.
A guerra teve início em 7 de outubro, quando comandos islamistas mataram mais de 1.170 pessoas, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais israelenses.
Os milicianos também sequestraram 252 pessoas. Israel afirma que 121 permanecem sequestradas em Gaza, das quais 37 teriam morrido.
Em resposta, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e iniciou uma ofensiva contra Gaza, que até o momento deixou 36.050 mortos, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério de Saúde de Gaza.
Atualmente, as forças israelenses lutam contra o movimento islamista em áreas do norte e do centro do território, onde o Hamas se reagrupou, assim como nas imediações de Rafah.
“Recompensar o terrorismo”
Após mais de sete meses de conflito, a ONU alerta que o território palestino, cercado pelas forças israelenses e onde a maioria dos hospitais não tem condições de funcionar, está ameaçado por um cenário de fome iminente.
A guerra e as mortes de civis provocaram uma crescente condenação mundial contra Israel, incluindo processos judiciais em dois tribunais internacionais em Haia.
Na terça-feira, Espanha, Irlanda e Noruega pretendem reconhecer formalmente a Palestina como um Estado, um passo já foi adotado por mais de 140 membros da ONU, mas por poucas potências ocidentais.
Israel, que acusa estes países de “recompensar o terrorismo”, anunciou nesta segunda-feira medidas punitivas contra Madri e ordenou que seu consulado em Jerusalém interrompa os serviços consulares aos palestinos a partir de 1º de junho.
“Aqueles que premiam o Hamas e tentam estabelecer um Estado terrorista palestino não terão contato com os palestinos”, afirmou o chefe da diplomacia do país, Israel Katz.