A gigante automotiva chinesa BYD anunciou a instalação de uma fábrica no Brasil para o desenvolvimento de veículos elétricos para o mercado sul-americano.
Em entrevista à Sputnik, o analista Germán Mangione afirma que a China levará a inovação, enquanto a região fornecerá o lítio.
A empresa Build Your Dreams (BYD) anunciou a abertura de três fábricas para a produção de veículos elétricos e híbridos em Camaçari, no estado da Bahia.
A gigante da indústria automotiva chinesa pretende liderar a indústria da “mobilidade sustentável”, investindo R$ 3 bilhões.
As fábricas produzirão chassis para ônibus e caminhões elétricos, bem como veículos híbridos e elétricos, com uma capacidade de produção de 150 mil unidades anuais.
Uma das unidades será dedicada à transformação de lítio e fosfato de ferro para a fabricação de baterias, cujas operações devem ser iniciadas no segundo semestre de 2024.
“A BYD já é uma das maiores fabricantes de veículos elétricos do mundo, junto a Tesla. Sua chegada ao Brasil vai consolidar a empresa como uma das mais importantes da América do Sul”, explicou o jornalista argentino e diretor do Observatório de Atividade dos Capitais chineses na Argentina e América Latina, Germán Mangione.
O especialista indicou que somente 2,5% dos veículos vendidos no Brasil são híbridos ou elétricos.
“Em 2030, a tecnologia poderá representar apenas 7% das vendas de veículos leves. Pensando na média mundial de 37%, ainda é um mercado pequeno”, ressaltou.
Mangione também observou que com o investimento, a empresa chinesa indica que vai transferir cada vez mais a tecnologia instalando fábricas da América do Sul, quando “dominadas as tecnologias básicas, como as baterias, motores elétricos, controladores eletrônicos e semicondutores a nível automotivo“.
A região conta com o triângulo do lítio, onde Argentina, Bolívia e Chile abrigam 56% das reservas deste metal, peça-chave para as baterias elétricas e mobilidade elétrica.
“Devemos pensar nas vantagens comparativas que a China encontra na América Latina desde essa perspectiva da cadeia integral, e não a partir do mercado interno. […] Os recursos naturais estão em nossos territórios e há infraestrutura para extraí-los e exportá-los. O custo do trabalho caiu, enquanto aumentou na China. Sendo assim, é conveniente se instalar aqui”, adicionou.
Mangione também reconheceu que a nova posição de liderança regional do Brasil e sua diplomacia em destaque no BRICS ajuda a trazer estes tipos de investimentos chineses à região.
“Seguramente, no equilíbrio geopolítico deste novo ‘multilateralismo de dois blocos’, a China tinha preferência por impulsionar seus investimentos e projetos nos países mais próximos. Porém, por outro lado, o governo de Xi Jinping demonstrou um forte pragmatismo a respeito, com as relações comerciais no comando”, destacou.