Um novo prognóstico aponta que a enchente que atinge Porto Alegre será ainda maior do que o previsto anteriormente. Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apontam a necessidade de preparar um plano de evacuação para diversos bairros das proximidades da orla do Lago Guaíba, nas zonas norte, sul e central, inclusive nas proximidades do Aeroporto Salgado Filho, na capital do Rio Grande do Sul.
A recomendação é ampliar a evacuação assim que o Guaíba pode ultrapassar os 5 metros, o que poderia ocorrer a qualquer momento. Por enquanto, a prefeitura recomendou a saída da população do centro histórico, das ilhas e do 4º Distrito — antiga área industrial que abrange os bairros Floresta, Navegantes, Humaitá, São Geraldo e Farrapos. Bloqueios foram feitos em alguns acessos. Também foram retirados moradores de outros pontos da cidade.
A estimativa é que o Guaíba chegue a 5,5 metros ainda neste sábado (4), o que é quase o dobro da cota de inundação. Há o temor de que possa colapsar o sistema de contenção contra cheias da cidade (que envolve comportas, muro, vias elevadas e bombeamento de água), pois há registros de problemas e é um dos principais responsáveis pelas águas não terem avançado ainda mais.
Professor do IPH, o engenheiro ambiental Fernando Mainardi Fan explica que a recomendação de evacuação é uma medida de segurança. Isso porque um eventual rompimento do sistema geraria um avanço muito rápido das águas pela cidade. No caso do aeroporto, a indicação é que se poderia manter as atividades mediante monitoramento até o Guaíba atingir os 5,5 metros.
“A gente está sendo justamente temerário de que o sistema não seja o suficiente, que possa ocorrer alguma falha nele e, aí, a água entrar”, aponta o professor. “(A evacuação seria) Uma medida de segurança, para proteger a vida das pessoas e os patrimônios mais valiosos”, continua.
Vazão do sistema
Como a cidade nunca teve uma enchente neste patamar desde antes das obras antienchente, dos anos 1970, e foram registrados alguns problemas no bombeamento da água (gerando refluxo pelos bueiros e causando alagamentos), há dúvidas sobre o quanto o sistema irá suportar.
Porto Alegre enfrenta dias seguidos de chuva, enquanto o Guaíba recebe um alto volume de água também de outros importantes rios do Estado, como o Taquari, um dos mais afetados nos últimos dias.
As chuvas deixaram ao menos 39 mortos e 68 desaparecidos no Estado, com pelo menos 235 municípios atingidos. O governo tem relatado dificuldade de chegar às áreas atingidas e que o balanço de afetados serão muito maior.
O próprio governador Eduardo Leite (PSDB) mostrou que o Estado tem avaliado o prognóstico dos pesquisadores da UFRGS. “Vai ser ser precedentes, esqueçam tudo o que já piram de pior em alagamentos em enchentes: vai ser muito pior aqui, na região metropolitana (de Porto Alegre)”, disse em vídeo publicado nas redes sociais. “O dique e o muro serão colocados à prova neste momento crítico.”
Áreas atingidas
Em conjunto com o também professor Rodrigo Paiva e o engenheiro Matheus Sampaio (da Rhama Analysis), o pesquisador divulgou o novo prognóstico. O material é acompanhado de um mapa com as possíveis áreas mais vulneráveis no caso de um eventual colapso do sistema de drenagem, baseadas na enchente recorde da cidade, de 1941, com 4,76 m.
A maioria envolve as quadras mais próximas do Guaíba, o que contempla as zonas sul, central e norte, como os bairros Praia de Belas, Cidade Baixa, Menino Deus, Tristeza, Assunção, Serraria e outros. Nesses locais, vivem mais de 140 mil pessoas em 77 mil domicílios, segundo o IBGE. Também estão parques, hospitais, shoppings, centros culturais, escolas e diversos espaços do serviço público.
Entre os locais, estão alguns dos pontos mais importantes e marcantes da cidade, tais como a sede da prefeitura, o Parque Marinha do Brasil, a Fundação Iberê Camargo, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, a Câmara Municipal, o Estádio Beira-Rio (do Inter), a Arena do Grêmio, o Centro de Eventos da Fiergs, o Aeródromo de Belém Novo, a Reserva Biológica do Lami e outros.