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Como fica a corrida eleitoral nos EUA após atentado a Trump

Atentado joga todas as atenções sobre Donald Trump. Agora oficialmente candidato republicano, ele fala de união nacional. Campanha democrata encara mais um desafio, além das dúvidas sobre competitividade de Biden.

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Depois da tentativa de assassinato do ex-presidente Donald Trump, todas as atenções dos observadores políticos nos Estados Unidos se voltaram neste o início de semana para a Convenção Nacional do Partido Republicano, que começou nesta segunda-feira (15/07) em Milwaukee, no estado do Wisconsin.

O resultado da convenção já era conhecido de antemão: a candidatura de Trump à Casa Branca foi oficializada. Para seu vice, está indicado o senador do Ohio J.D. Vance. O que interessa a analistas e observadores é como o atentado contra Trump vai mudar a campanha eleitoral dos EUA, até então dominada por questões sobre a idade e aptidões física e mental do presidente Joe Biden, de 81 anos, pré-candidato à reeleição pelo Partido Democrata.

Entre os fiéis apoiadores do movimento Maga (Make America Great Again, ou “façamos a América grandiosa de novo”), a tentativa de assassinato certamente vai reforçar a imagem quase divina que eles têm de Trump e confirmar teorias conspiratórias de que ele é perseguido pelo establishment político de Washington – a prova disso seriam os inúmeros processos judiciais que Trump enfrenta.

Também entre aqueles que não votam em Trump de jeito nenhum, o atentado certamente não levará a qualquer reavaliação. Não está claro, porém, como ficará a opinião – e a tendência de voto – dos eleitores indecisos nos swing states, como é o caso do Wisconsin, onde não há preferência clara por um candidato.

“O interessante é como isso [o atentado] vai afetar as cabeças dos eleitores [nos swing states] e como isso vai afetar a cabeça de Donald Trump. Essas são duas questões cruciais”, observou o jornalista Dominic Waghorn, da emissora Sky News.

Atentado pode impulsionar Trump?

A análise mais recorrente é a de que o atentado eleva as chances de Trump ao colocá-lo no centro das atenções e ainda por cima no papel de vítima. Mas Waghorn apresenta uma outra perspectiva: “Há muito medo em relação a Donald Trump. Ele tem sido muito eficaz em não lembrar os eleitores da loucura que foi a sua primeira campanha e do medo que eles tinham no primeiro mandato de os EUA caírem na violência – e o grande ato de violência política foi o ataque ao Capitólio, pelo qual muitos americanos culpam Trump. [Esses eleitores] vão agora olhar para isso [o atentado] como uma lembrança dos medos que eles tinham de Trump?”, observa Waghorn.

Por essa lógica, Trump deveria agora mirar os indecisos com apelos por moderação – o que foi justamente o que ele fez, ao menos num primeiro momento. Na sua primeira entrevista após o atentado, o republicano disse ao jornal The Washington Examiner que reescreveu o discurso que faria na convenção nacional.

Na entrevista, Trump disse que fará um apelo pela união nacional, mencionando que pessoas de diferentes correntes políticas ligaram para ele. “Esta é uma chance de unir todo o país, até mesmo o mundo inteiro. O discurso será muito, muito diferente do que teria sido há dois dias”, declarou.

Outras lideranças republicanas também apelaram à moderação. “É um momento sombrio na história do país. É um momento perigoso. E estamos sugerindo que todas as autoridades eleitas, do presidente em diante, tentem realmente unir o país. Precisamos de uma mensagem unificada. Precisamos baixar a temperatura”, declarou o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, à emissora CNN.

Mesmo assim, Johnson e outros líderes republicanos não deixaram de colocar nos democratas a culpa pela polarização e pelo linguajar agressivo da campanha eleitoral, embora Trump tenha frequentemente usado uma linguagem violenta.

“A premissa central da campanha de Biden é que o presidente Donald Trump é um fascista autoritário que deve ser detido a todo custo. Essa retórica levou diretamente à tentativa de assassinato”, afirmou o candidato a vice J.D. Vance. Analistas disseram que a escolha de Vance como vice de Trump seria um sinal de que a campanha republicana não baixaria o tom nos próximos meses.

Democratas perante mais um desafio

Do lado democrata, o atentado coloca a equipe de Biden perante mais um desafio, à parte as crescentes dúvidas internas sobre se o presidente seria mesmo o melhor candidato para derrotar Trump e que ganharam força depois da desastrosa participação do democrata no debate da emissora CNN.

Biden, que já rotulou Trump de uma ameaça à democracia, deu uma pausa nessa mensagem. Logo após o ataque de sábado à noite, a campanha democrata divulgou que estava suspendendo comerciais de televisão, incluindo aqueles que atacavam Trump e suas propostas.

O presidente também adiou uma viagem planejada para o Texas nesta segunda-feira, onde falaria sobre o 60º aniversário da Lei dos Direitos Civis na biblioteca presidencial Lyndon B. Johnson. Uma entrevista à emissora NBC News ocorrerá agora na Casa Branca, em vez de no Texas, como inicialmente planejado.

Biden enfatizou “a necessidade de baixarmos a temperatura em nossa política”, conclamando a população a “lembrar que, embora possamos discordar, não somos inimigos”. “Nos Estados Unidos, resolvemos nossas diferenças nas urnas, não com balas”, acrescentou o presidente na noite de domingo, num pronunciamento à nação na Casa Branca. “O poder de mudar os Estados Unidos deve sempre estar nas mãos do povo, não nas mãos de um possível assassino”, disse.

É possível que o atentado ao oponente republicano interrompa, ao menos temporariamente, as querelas internas sobre a manutenção ou não de Biden como candidato diante da questão mais urgente de como atacar Trump depois de ele ter sido vítima de um atentado.

“Biden agora enfrenta um dos mais complexos testes de habilidade presidencial dos últimos anos. Ele está abraçando seu dever [presidencial] de proteger o discurso político – até mesmo o de um oponente – e pediu uma investigação das possíveis falhas do Serviço Secreto [responsável pela segurança de presidentes e candidatos] no ataque. Ao mesmo tempo, ele está tentando reavivar sua própria sorte política com uma postura presidencial, mas sem deixar de enfrentar Trump”, observou o analista da CNN Stephen Collinson.

“Biden agora enfrenta a difícil decisão sobre quando voltar à ofensiva contra Trump – uma decisão que pode estar condicionada ao tom que seu rival adotar. Mas Biden sinalizou sutilmente, no seu pronunciamento, que não diminuirá suas advertências de que seu antecessor e possível sucessor representa uma ameaça às liberdades democráticas que definem a alma dos Estados Unidos”, afirmou o jornalista.