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Como Irã e Rússia escapam às sanções do Ocidente

Teerã tem vivido sob embargo por quase 40 anos, e Moscou nunca enfrentou tantas restrições econômicas num prazo tão breve quanto agora. Apesar disso, medidas têm efeito limitado.

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O Irã sabe, a China sabe e, aparentemente, os Estados Unidos também sabem: apesar das sanções atualmente vigentes contra a indústria petroleira da república islâmica, Teerã tem exportado volumes recordes da commodity a Pequim.

Colunista que cobre energia e comércio de matérias-primas para a agência de notícias americana Bloomberg, Javier Blas explica como isso acontece: “Se você acredita no que o governo chinês diz, eles não estão importando nenhum combustível do Irã. Zero. Nem um barril sequer. Ao invés disso, compram [petróleo] não refinado aos montes da Malásia – tanto que, segundo dados da alfândega chinesa, de algum jeito estão comprando mais que o dobro do que a Malásia de fato produz.”

A revenda do petróleo iraniano fez da Malásia o quarto maior fornecedor do recurso em 2023, atrás apenas de Arábia Saudita, Rússia e Iraque.

Por muitos anos, o Irã tem usado os Emirados Árabes Unidos para se esquivar das sanções. Dubai, um dos sete emirados da monarquia, é o principal ponto de entrada de bens proibidos que suprem Teerã  – exceto petróleo. Há tempos, a República Islâmica modificou suas cadeias de suprimentos para obter quase tudo que for embargado pelos Estados Unidos ou pela União Europeia, através de polos comerciais e

Ásia Central é o novo hub comercial russo

Devido às sanções do Ocidente decorrentes da guerra na Ucrânia a Rússia estabeleceu rotas comerciais semelhante, a fim de assegurar o fornecimento contínuo de bens vitais para sua economia.

As antigas repúblicas soviéticas na Ásia Central têm se mostrado ideais para contornar os embargos, já que países como Cazaquistão e Quirguistão integram uma união aduaneira com Moscou. Além disso, as vastas distâncias – só o Cazaquistão compartilha uma fronteira de mais de 7.500 quilômetros com a Rússia – praticamente inviabilizam a aplicação das sanções.

Graças à estratégia russa de minar as sanções, a Armênia, por exemplo, viu em 2023 suas importações de carros alemães e componentes aumentarem quase 1.000%.

Sanções abundam, mas com efeitos tímidos

No papel, a Rússia é o país mais sancionado do mundo, segundo dados da base global Castellum.AI. Na prática, porém, a economia russa está longe do colapso: cresceu robustos 3,6% em 2023, e o ministro russo das Finanças Anton Siluanov declarou que a expectativa é que a taxa de 2024 se mantenha “no mesmo nível”.

O prognóstico é apoiado pelo Fundo Monetário Internacional FMI), que projeta uma expansão de 3,2% do PIB russo – em parte devido aos altos níveis dos gastos públicos e investimentos relacionados à guerra na Ucrânia, mas também devido aos lucros com a exportação de petróleo.

No total, a Rússia encara mais de 5 mil sanções – mais do que o total imposto a Irã, Venezuela, Myanmar e Cuba juntos. Alvos desses embargos são políticos e funcionários do governo de Vladimir Putin, bem como oligarcas russos, grandes empresas, instituições financeiras e o complexo militar-industrial do Kremlin.

Sanções financeiras restringiram o acesso dos bancos russos a mercados financeiros internacionais, excluindo-os do sistema de pagamentos Swift, usado na maioria das transações internacionais.

Além disso, o Banco Central russo teve suas reservas bloqueadas nos países do G7 – Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Japão e Canadá.

A questão é que apenas sanções impostas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas têm força legal em todo o mundo. Além disso, diversos países, como Índia, China e Brasil – este último recentemente alçado à posição de maior importador de diesel russo –, não endossaram esses embargos.

Questão de coerência

Se é assim, por que nações do Ocidente continuam a emitir sanções que não têm capacidade de impor na prática?

“Se não houvesse sanções, seria quase como um apoio tácito. Ou como se não houvesse reação a esse ataque ilegal [da Rússia contra a Ucrânia]”, explica Christian von Soest, especialista em sanções no Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga, na sigla em inglês).

Os EUA e a Europa precisam calibrar suas ações para “forçar a Rússia e o Irã a mudar de comportamento”, opina o também autor do livro Sanctions: Powerful weapon or helpless maneuver? (Sanções: Armas poderosas ou manobra impotente?).

China na mira dos EUA

Segundo o diário americano The Wall Street Journal, Washington planeja também sancionar diversos bancos chineses para garantir que as restrições sejam eficazes. Segundo fontes anônimas ouvidas pelo jornal, o governo de Joe Biden quer excluir Pequim do sistema financeiro global, de modo a interromper o fluxo de capital que irriga a máquina de guerra russa.

Na UE, o irlandês David O’Sullivan foi nomeado em janeiro enviado para sanções. Cabe-lhe conduzir esforços diplomáticos que tornem eficazes as sanções do bloco europeu. Isso inclui negociações com ex-repúblicas soviéticas para persuadi-las a reforçar o cumprimento das sanções de forma mais rigorosa, segundo pesquisador Von Soest. Mas “o problema geral, que foi reconhecido, é que há formas de contornar essas sanções, tanto por parte da Rússia quanto do Irã”.

Algum impacto, porém, já está sendo sentido: na Turquia, por exemplo. Lá, a ameaça dos americanos de sancionar empresas do mercado financeiro que negociem com a Rússia provocou a queda acentuada das exportações de Ancara a Moscou, que haviam explodido em 2023.