Ex-funcionário da VoePass e uma das primeiras pessoas a pilotar um ATR no Brasil, o comandante Ruy Guardiola afirmou que, em 2019, um palito foi improvisado pela equipe de manutenção para resolver um problema em um botão que aciona o sistema antigelo de um dos aviões da companhia. A entrevista foi dada na noite de domingo, 11, ao Fantástico, da TV Globo.
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A falha no sistema de gelo é uma das suspeitas para o acidente que matou 62 pessoas na sexta-feira, 9, em Vinhedo, interior de São Paulo.
“Um problema foi detectado no nível de aquecimento de um dos sistemas. A solução encontrada pela manutenção foi a colocação de um palito de fósforo, ou sei lá, um palito de dente, eu vi com esses olhos que a terra há de comer”, revelou o piloto.
Outras irregularidades e problemas na manutenção das aeronaves da companhia foram relatados ao Fantástico. Uma pessoa que preferiu não se identificar contou que um dos modelos da empresa era apelidado de “Maria da fé”, pois “só voava pela fé”.
“Não tinha explicação de como um avião daquele estava voando”, declarou. A pessoa ainda afirmou que a VoePass visava o lucro, e colocava a segurança dos tripulantes e passageiros em “segundo ou terceiro plano”.
Em nota enviada ao site IstoÉ, a Voepass reiterou que “todas as aeronaves em operação estão aeronavegáveis e aptas a realizar voos, com todos os sistemas requeridos em funcionamento, cumprindo o que estipulam as autoridades e a legislação setorial vigente.”
Dano estrutural
O avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP) na sexta-feira, 9, sofreu um dano estrutural em 11 de março deste ano, durante o pouso de um voo de Recife para Salvador. O avião turboélice modelo ATR-72-500 da Voepass teve um choque da cauda do avião com a pista. Segundo informações do Fantástico, da TV Globo, um relatório oficial também descreveu problemas no sistema hidráulico durante o voo.
Após o incidente, a aeronave ficou estacionada na capital baiana por 17 dias até voar para Ribeirão Preto (SP), onde passou por consertos na oficina da Voepass.
No dia 9 de julho, o avião voltou a voar comercialmente, no entanto, houve despressurização em uma das viagens e no mesmo dia a aeronave voltou para Ribeirão Preto, onde ficou parado mais quatro dias para reparos.
As atividades comerciais do ATR foram retomadas novamente no dia 13 de julho, até cair em Vinhedo na sexta-feira, 9. Para os especialistas ouvidos pelo Fantástico, o dano estrutural é uma das hipóteses para explicar a queda da aeronave.
As condições climáticas também estão entre as hipóteses mais fortes para explicar a queda do avião. Imagens do acidente mostram a aeronave caindo em um giro vertical, posição chamada no meio da aviação de “parafuso chato”, o que é apontado como principal indicativo de que o acidente ocorreu em razão de uma perda de sustentação, o “estol”.
Segundo especialistas, a perda de sustentação pode estar associada à formação de gelo nas asas do avião. O voo não reportou emergência, de acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa).