O ex-primeiro-ministro grego participou da apresentação do livro “Pastas secretas de Karamanlís”, do jornalista Manolis Kottakis. O discurso foi publicado no site da televisão pública ERT News. No período em que governou a Grécia, entre 2004 e 2009, as relações entre o país e a Rússia eram mais fortes.
“A condenação inequívoca e unânime da invasão russa na Ucrânia não é uma justificativa suficiente para adotar uma atitude cada vez mais agressiva e rígida em relação à condução e continuação da guerra. Em vez de assumir a iniciativa de um cessar-fogo e buscar uma solução com base nos Acordos de Minsk, a Europa frequentemente exagera em seu comportamento como partidária da guerra. Mas isso provavelmente levará a uma escalada contínua e perigosa do conflito ou à busca por uma saída mais tarde em condições ainda mais desfavoráveis”, disse Karamanlís.
“A principal vítima será a própria Ucrânia e seu povo, bem como a Europa, que depois de 80 anos vê a ameaça de uma guerra geral se aproximando em seu território”, afirmou o ex-primeiro-ministro.
Segundo Karamanlís, esse paradoxo geopolítico é agravado pela incapacidade da Europa de desempenhar um papel ativo, como deveria, nos esforços para resolver a situação no Oriente Médio.
“O direito inquestionável de Israel à autodefesa e à repulsa das ações terroristas do Hamas não o isenta da responsabilidade de evitar ações contra palestinos pacíficos. Claro, isso também não o isenta da responsabilidade de minar a única solução existente: a criação de um Estado palestino independente”, afirmou.
O ex-primeiro-ministro ressaltou que nesse cenário geopolítico complexo e imprevisível também existe alto risco de aumento da tensão nos Bálcãs Ocidentais.
“Os Acordos de Dayton se tornaram, de fato, letra morta. O Kosovo chegou a um impasse. O nacionalismo e as ‘grandes ideias’ na região, em vez de gradualmente diminuírem, estão ganhando força novamente. Em relação ao comportamento que oculta intenções irredentistas e mina as relações de boa vizinhança, é necessário enviar um sinal claro e firme a Tirana e Skopje: tal comportamento não será tolerado e terá consequências. Com um lembrete adicional de que seu caminho para a Europa depende da Grécia”, enfatizou.
Sobre a posição da Turquia, Karamanlís afirmou que “as ambições hegemônicas” e “o desafio direto à integridade territorial e aos direitos soberanos” da Grécia não desapareceram.
“Qualquer trégua temporária na retórica e nas provocações não deve obscurecer a verdade. A Turquia tem uma agenda revisionista clara na região e ameaça diretamente a Grécia e o Chipre”, pontuou.
Em relação aos problemas gerais da Europa, o ex-primeiro-ministro afirmou ainda que a Europa não está enfrentando uma crise pela primeira vez, mas que dessa vez tende a se transformar em um problema político geral, com abalos nas instituições e na confiança.
“Partidos históricos, que por muitas décadas desempenharam um papel de liderança nos eventos de seus países, estão desaparecendo ou em fase de declínio progressivo. Os cidadãos estão se distanciando deles porque perderam ou estão perdendo a confiança neles, em suas políticas, em seus programas. Será que todos eles [cidadãos] de repente se tornaram seguidores fanáticos de formações políticas de extrema-direita ou pró-fascistas? Ou será que camadas cada vez mais significativas da população rejeitam o modelo de vida e sociedade que veem sendo imposto a eles de cima e sentem a necessidade de protestar e reagir?”, argumentou.
Karamanlís observou que a reação da maioria dos líderes europeus não mostra a compreensão do que realmente aconteceu e sequer há disposição para mudanças políticas substanciais.
“Tentando minimizar a importância da mensagem eleitoral, eles não hesitam em fazer comentários depreciativos e desdenhosos sobre os cidadãos que protestam em seus discursos públicos. De repente, a Europa se encheu de populistas, extremistas, defensores de fascistas e fanáticos. Idiotas incapazes de entender as tendências e prioridades modernas do multiculturalismo, dos direitos ilimitados, dos mercados todo-poderosos e do sistema bancário opaco, do desaparecimento gradual do Estado nacional. Mas todos esses são exemplos de uma mentalidade doentia e perigosa”, defendeu.