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Fala de Putin sobre o Brasil na mediação do conflito em Kiev evidencia ‘força diplomática’ do país

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Nesta quinta-feira (5), o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o Brasil é um dos países interessados em pôr um fim ao conflito em curso na Ucrânia.

A declaração foi dada durante a realização do Fórum Econômico do Oriente, na cidade russa de Vladivostok.

Segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil, a fala de Putin reforça o papel do Brasil como país neutro e solucionador de conflitos via intermediação diplomática.

À Sputnik, Larissa Caroline da Silva, mestre em relações internacionais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pontuou que esse movimento do líder da Rússia realça a força diplomática brasileira.

“A declaração do Putin sobre o Brasil coloca o Brasil de novo nessa questão [como solucionador e intermediador], que é algo que o presidente Lula vem desde o início do mandato se posicionando. E o Brasil, inclusive, já tinha demonstrado interesse em ser mediador desse conflito“, cravou a internacionalista.

Larissa Caroline acredita também que o governo brasileiro “aceitaria tranquilamente e […] gostaria de fazer […] parte dessa negociação […] desse conflito”.

Mudança de percepção

Para o jurista Hugo Albuquerque, “o Brasil é um dos poucos países que têm tomado uma posição de querer encerrar realmente o conflito”.

“O Ocidente coletivo tem tomado uma posição de derrotar a Rússia. Por isso o presidente Putin chega a essa referência ao Brasil, e a mesma coisa à China, que é uma aliada até mais orgânica da Rússia. Ela busca uma solução, porque à China não interessa economicamente e geopoliticamente esse conflito; ela busca uma saída concertada. Mas isso não interessa ao Ocidente liderado pelos Estados Unidos”, analisou Albuquerque.

Segundo Larissa, a declaração recente do presidente russo pode de fato impactar a percepção de alguns países sobre a neutralidade do Brasil. No entanto, ela também abre uma oportunidade estratégica para o país se afirmar como um mediador eficaz.

“Acredito que a afirmação do Putin pode impactar a percepção de alguns países sobre a neutralidade do Brasil, mas talvez seja até interessante trazer o Brasil para essa discussão”, comentou Larissa. Ela destacou que “o Brasil é um país que não se envolve em conflitos, tem boas relações com os seus vizinhos” e que sempre manteve a visão de ser um país pacífico em sua política externa.

Larissa observou ainda que o Brasil “tem uma boa relação com a Rússia” e que essa relação remonta a décadas passadas, não apenas aos tempos recentes do BRICS. “O Brasil pode desempenhar um papel maior no cenário internacional do que ele desempenha atualmente”, afirmou. Ela ressaltou a importância dessa relação histórica, dizendo que “é muito interessante e acaba casando com a estratégia da diplomacia brasileira“.

Albuquerque reforçou à Sputnik Brasil que há um interesse chinês em pôr fim no conflito na Ucrânia. De acordo com ele, no curto prazo, como esse conflito aumenta o valor do petróleo e as taxas de juros globais, “é um conflito que desafia a China no curto prazo e é problemático no médio e longo”.

Ucrânia desinteressada no fim do conflito

Em sua análise, o jurista Hugo Albuquerque avaliou que a atual ideologia política ucraniana não vai querer o fim das operações, porque ela não parece interessada no fim do conflito.

“Ela [a Ucrânia] parece ter um interesse de lutar até o fim e, de alguma maneira, criar uma provocação contra a Rússia, como a gente tem visto em Kursk. Então pode haver, na realidade, um aumento de um racha, com o Norte Global querendo a guerra, o Sul Global não querendo e sendo apontado como a parte ‘não neutra’ pelo Norte Global. [Porém] este, sim, não é neutro e incentiva um lado do conflito”, cravou à Sputnik Brasil.

Em relação ao futuro do papel do Brasil na mediação de conflitos, Larissa mencionou que a recente declaração de Putin é um passo significativo: “Muito interessante essa fala do Putin trazendo a Índia, a China e o Brasil de novo para essa pauta, porque logo mais a gente tem encontro do BRICS [em Kazan, na Rússia, de 22 a 24 de outubro]”.

Ela vê a possibilidade de que a mediação possa começar a tomar mais forma nessa reunião, dependendo do que acontecer.

“É muito interessante, porque de um lado a gente tem o Brasil, que é esse país na América do Sul que também lida com a questão dos Estados Unidos, influenciando muito na região; e do outro lado a gente tem a China, que é essa grande potência que está disputando com os Estados Unidos“, explicou.