Com heranças do extinto ARENA, o PL – Partido Liberal – ganhou força com a chegada do Ex-Presidente Jair Bolsonaro em 2021. A partir deste movimento, outros políticos populares como Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro e Nikolas Ferreira se tornaram correligionários da sigla, que se consolidou como referência partidária entre os conservadores brasileiros.
A política, entretanto, não é uma ciência exata, e as eleições municipais de 2024 estão provando isso aos eleitores. Após destituir o Deputado Federal Marcos Pollon da presidência do partido em Mato Grosso do Sul, o PL-MS, agora sob a liderança de Tenente Portela, amigo de Bolsonaro e suplente de Tereza Cristina, abriu mão de encabeçar uma chapa para o Executivo campo-grandense para apoiar um antigo adversário: o PSDB.
A mudança de estratégia parece ter surtido efeito direto sobre os articuladores do partido, especialmente sobre os que podem influenciar o direcionamento dos recursos destinados aos candidatos. A expectativa de uma distribuição
razoável e justa entre aqueles que pleiteiam uma vaga no legislativo da capital se esvaiu tão logo as contas foram divulgadas no Tribunal Superior Eleitoral. Ana Portela, que goza de imunidade familiar por ser filha do presidente do
diretório estadual do partido, recebeu a maior fatia do bolo com generosos R$400.000,00. Loester Carlos, o “Tio Trutis”, que almeja voltar à cena política após uma série de escândalos, recebeu outros R$300.000,00, valores que não
tem refletido em sucesso de campanha.
Numa segunda prateleira, Rafael Tavares, cuja expectativa é ser o puxador de votos, recebeu R$200.000,00. O ex-vereador André Salineiro, com R$170.000,00, e os novatos Carlinhos da Farmácia e Bruno Ortiz, com R$ 120.000,00 e R$ 100.000,00, respectivamente, fecham a lista dos que alcançaram a benesse de seis dígitos pelo Partido Liberal.
Longe dos privilégios eleitorais, porém, encontra-se Cassy Monteiro. A candidata, que imprimiu sua participação e liderança em movimentos conservadores do estado nos últimos anos, conta com a declaração de apoio de figuras influentes no cenário político conservador, como dos deputados federais Nikolas Ferreira (MG), Caroline de Toni (SC), Tenente-Coronel Zucco (RS), deputado estadual Carmelo Neto (CE), além de importantes nomes do meio cristão, como o influenciador Henrique Krigner e os pastores Teo e Junia Hayashi, da Zion Church.
Apesar da manifesta capacidade de mobilização física e digital, ao que tudo indica, o partido não possui interesse em apoiar a candidata, mesmo diante de chances reais de ocupação de uma das 29 cadeiras da Câmara Municipal de Campo Grande. Após a gastança no patrocínio de dois candidatos cuja eleição é incerta, o PL-MS parece ter se “esquecido” de Cassy Monteiro, repassando irrisórios R$30.000,00, bem longe das fartas transferências para os privilegiados da sigla.
Se observadas as candidaturas femininas, a diferença se torna ainda mais grotesca. Até a data de publicação deste artigo, o PL havia distribuído R$890.000,00 entre suas candidatas à vereança da capital. Deste montante, 45% (R$400.000,00) foi apenas para Ana Portela, enquanto as outras oito candidatas ficaram com os 55% (R$490.000,00) restantes.
Em termos proporcionais, para o Partido Liberal, é como se uma única mulher fosse equivalente a todas as outras juntas. É claro que os partidos possuem a liberdade de direcionar mais ou menos recursos conforme a estratégia de eleição, mas a evidente falta de critérios do PL-MS, somada à recente instabilidade sobre os cargos de presidente do diretório estadual e candidato à eleição majoritária, parecem indicar que ninho liberal não pretende ser guiado por princípios e valores conservadores, mas +pela “velha política” que um dia quis combater.