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Israel exige retirada de missão da ONU no sul do Líbano

Tanques israelenses invadem base da Unifil após premiê Netanyahu afirmar que soldados da missão de paz viram "escudos humanos" para o Hezbollah. Secretário-geral da ONU alerta sobre possível "crime de guerra".

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O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu nesta sexta-feira (13/10) em telefonema ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a retirada das forças de paz da ONU no sul do Líbano, para evitar que os membros da missão internacional sejam colocados em situação de risco.

A conversa ocorreu no mesmo dia em que tanques israelenses invadiram uma das bases da ONU na região.

A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) tem rejeitado os apelos para retirar seu contingente da zona de fronteira entre Israel e Líbano, depois de cinco de seus soldados ficarem feridos em meio a combates entre Israel e o grupo xiita libanês Hezbollah.

O primeiro-ministro israelense acusou o Hezbollah de usar os soldados da missão de paz como escudos humanos. “Senhor secretário-geral, retire as forças da Unifil do caminho do perigo. Isso deve ser feito agora, imediatamente”, alertou Netanyahu, em vídeo divulgado por seu gabinete.

O premiê reiterou que Israel pediu a Unifil diversas vezes para que se retirasse da região, alertando que a presença da missão de paz tinha “o efeito de fornecer escudos humanos aos terroristas do Hezbollah”.

“Sua recusa em retirar os soldados da Unifil faz com que eles se tornem reféns do Hezbollah. Isso os coloca em perigo, assim como as vidas de nossos soldados”, disse o premiê. “Lamentamos o mal causado aos soldados da Unifil e fazemos o máximo para evitar isso. Mas, a maneira mais simples e óbvia de assegurar isso é simplesmente retirá-los da zona de perigo.”

Unifil rejeita deixar sul do Líbano

No início do mês, o ministro israelense do Exterior de Israel, Israel Katz, anunciou que Guterres foi declarado persona non grata e teve proibida a sua entrada no país, por considerar que ele não condenou “de forma inequívoca” o ataque iraniano contra Israel no dia 1º de outubro.

A Unifil rejeitou diversas vezes os apelos israelenses para abandonar suas posições no sul do Líbano. “Houve uma decisão unânime de permanecer, por que é importante que a bandeira da ONU ainda tremule alto nessa região, e para podermos relatar os fatos ao Conselho de Segurança”, afirmou neste sábado o porta-voz da Unifil, Andrea Tenenti.

Segundo o porta-voz, Israel pediu que a Unifil removesse suas posições de uma área de “até cinco quilômetros da Linha Azul [que separa os dois países]”, o que foi rejeitado pela missão de paz.

A Unifil – criada após a invasão israelense no Líbano,  em 1978 – mantém 29 posições no sul libanês, com cerca de 10.000 soldados de várias nacionalidades. Seu objetivo atual é monitorar o cessar-fogo que pôs fim a uma guerra de 33 dias entre Israel e o Hezbollah, em 2006. 

Tanques israelenses invadem base da Unifil

Horas após a o telefonema entre Netanyahu e Guterres, a Unifil denunciou que dois tanques israelenses derrubaram neste domingo a entrada principal de uma de suas bases no sul do Líbano.

“Dois tanques Merkava das Forças de Defesa Israelenses (IDF) destruíram o portão principal de nossa posição e forçaram a entrada. Eles pediram múltiplas vezes para que apagássemos as luzes da base”, informou a missão da ONU, em nota.

A Unifil relatou que os tanques permaneceram no local por 45 minutos, depois de a missão protestar junto a seus intermediários.

Mais tarde, no mesmo local, soldados da ONU relataram explosões a 100 metros da base que geraram uma fumaça, que teria causado irritações na pele e problemas gastrointestinais em 15 membros da Unifil.

Na versão apresentada pelo Exército israelense, o Hezbollah teria disparado mísseis antitanque que feriram 25 soldados em um ataque próximo à Unifil, e um tanque que realizava a evacuação dos feridos abalroou o portão da missão.

“Não foi uma invasão da base. Não tentamos entrar na base. Foi um tanque sob fogo pesado num episódio com múltiplas vítimas que manobrava para sair da zona de risco”, afirmou um porta-voz do Exército de Israel.

Segundo a nota da Unifil, Israel também impediu neste sábado uma “importante movimentação de logística” da missão da ONU próxima à cidade libanesa de Mais al-Jabal, na região de fronteira.

Guterres criticou a atitude do governo israelense. “Membros da Unifil e suas instalações jamais devem ser alvos”, afirmou em nota o secretário-geral. “Ataques contra forças de paz são uma violação das leis internacionais e podem constituir crimes de guerra.”

Ataque à missão de paz amplamente condenado

Uma declaração assinada por 40 países que colaboram com a Unifil condenou “nos termos mais fortes” os ataques à missão de paz que deixaram cinco soldados feridos.

“Tais ações devem cessar imediatamente e têm de ser investigadas adequadamente”, diz a declaração conjunta divulgada neste sábado na rede social X pela missão polonesa na ONU e assinada por alguns dos maiores colaboradores, como a Itália, Alemanha, Reino Unido, China, Turquia, Itália, França, Espanha, Indonésia e Índia.

O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, condenou o alerta de Tel Aviv para que a Unifil abandone o sul do Líbano. “A advertência enviada por Netanyahu a Guterres, exigindo a retirada da Unifil, representa um novo capítulo no método do inimigo para deixar de cumprir as normas internacionais”, criticou.

Na sexta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse ter pedido a Netanyahu o fim das ações hostis de Israel contra a Unifil. O Papa Francisco lançou um apelo semelhante neste domingo e defendeu a implementação de um cessar-fogo em toda a região.

Críticas à UNRWA em Gaza

Netanyahu fez um paralelo entre a situação da Unifil no Líbano com o fato de o grupo terrorista Hamas supostamente se esconder por trás dos membros da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), na Faixa de Gaza.

“Infelizmente, a UNRWA também colabora com o Hamas na região”, acusou Netanyahu, neste domingo. A agência da ONU, que possui mais de 30.000 funcionários nos territórios palestinos e em outras regiões, atravessa uma crise desde que Israel acusou seus membros de estarem envolvidos nos ataques terroristas do Hamas em solo israelense, em 7 de outubro de 2023.

A ONU demitiu funcionários que estavam sob suspeita e disse ter encontrado algumas questões que colocavam em dúvida a neutralidade de alguns dos envolvidos, mas reforçou que Israel jamais ofereceu provas de suas principais acusações.

Os atentados do Hamas em Israel deixaram mais de 1.200 mortos e resultaram no sequestro de cerca de 250 pessoas. O Ministério da Saúde em Gaza, administrado pelo Hamas, afirma que a ofensiva israelense no enclave palestino já deixou mais de 42 mil mortos e 98.400 feridos. Esses números não puderam ser verificados de maneira independente.