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Lula ataca dólar como moeda do comércio internacional e FMI em visita à China

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, nesta quinta-feira (13), o uso preponderante do dólar no comércio internacional e acusou o Fundo Monetário Internacional (FMI) de “asfixiar” economias, no primeiro dia de sua visita oficial à China.

Lula, cujo governo anunciou recentemente um acordo com Pequim para fazer negócios em suas próprias moedas – deixando de lado o dólar como intermediário – está na China para estreitar os laços econômicos com o principal parceiro comercial do Brasil e afirmar que o país “está de volta” ao cenário internacional.

“Toda noite me pergunto por que todos os países estão obrigados a fazer o seu comércio lastreado no dólar? (…) Quem decidiu que é o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como paridade?”, questionou Lula, após participar da cerimônia de posse da ex-presidente Dilma Rousseff (2011-2016) como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDV, na sigla em inglês) dos Brics, o grupo de grandes países emergentes que reúne Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul.

“Hoje um país precisa correr atrás de dólar para poder exportar quando poderia exportar na sua própria moeda”, continuou Lula. “Por que um banco como o Brics não pode ter uma moeda que pode financiar a relação comercial entre Brasil e China, entre Brasil e outros países do Brics?”

Nigel Chalk, vice-diretor do Departamento do FMI para as Américas, descartou que exista um “grande plano por trás disso, é mais como um resultado determinado pelo mercado”, em declarações durante coletiva de imprensa por ocasião da publicação das novas perspectivas de crescimento para a América Latina e o Caribe.

“Para que uma moeda seja usável, tanto no comércio quanto nas finanças, deve haver muitos fundamentos institucionais que o apoiem”, como um mercado financeiro sólido e disponibilidade de fundos, acrescentou.

Mas, “não é impossível de fazer, é algo factível”, acrescentou, dando como exemplo o iuane chinês.

O presidente Lula também criticou o FMI, aludindo às acusações de que a instituição com sede em Washington impõe cortes draconianos nos gastos públicos em países em dificuldades econômicas, como a Argentina, em troca de empréstimos.

“Não cabe a um banco ficar asfixiando as economias dos países como o FMI está fazendo agora na Argentina e como fizeram com o Brasil durante muito tempo e com todos os países do terceiro mundo”, afirmou. “Nenhum governante pode trabalhar com una faca na garganta porque está devendo”.

Chalk assegurou, no entanto, que o FMI está “para apoiar o programa de autoridades da Argentina”, que o calibraram “de uma forma que acreditam ser a melhor maneira de fazê-lo para suas próprias circunstâncias internas”.

– “O Brasil está de volta” –

Desde seu retorno ao poder, em 1º de janeiro, o petista tem como objetivo recolocar o Brasil “na nova geopolítica mundial” e deixar para trás o isolacionismo de seu antecessor, Jair Bolsonaro.

Nesta sexta-feira (14), o petista se encontrará com o contraparte chinês, Xi Jinping, em Pequim, após visitar Washington em fevereiro e a Argentina em janeiro. A visita à China estava prevista para 25 a 31 de março, mas a viagem foi adiada depois que Lula foi diagnosticado com pneumonia.

“A época em que o Brasil estava ausente nas grandes decisões mundiais já é coisa do passado. Estamos de volta no cenário internacional depois de uma ausência inexplicável”, declarou em seu primeiro evento oficial no país.

“O Brasil está de volta”, insistiu durante o evento no banco dos Brics.

– Economia –

Lula viajou com uma comitiva que inclui quase 40 representantes políticos, incluindo nove ministros, governadores, deputados e senadores, além de empresários.

Esta é a quarta visita oficial à China de Lula, que iniciou em janeiro seu terceiro mandato como presidente, depois de dois mandatos entre 2003 e 2010.

Após a primeira visita do petista, em 2004, o volume de comércio entre as duas economias cresceu 21 vezes, segundo o Palácio do Planalto.

Em 2022, o gigante asiático importou do Brasil 89,7 bilhões de dólares (443 bilhões de reais), com destaque para soja e minerais, e exportou um valor de US$ 60,74 bilhões (R$ 300 bilhões), segundo dados oficiais.

O primeiro dia, em Xangai, teve uma agenda essencialmente econômica, com uma visita a um centro de pesquisas da Huawei.

O presidente da Huawei, Liang Hua, acompanhou Lula em uma exposição mostrando os avanços tecnológicos da empresa e sua ampla presença no Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, que proíbem suas empresas de fazer negócios com a gigante chinesa.

– Mediação na Ucrânia –

Na sexta-feira em Pequim, Lula e Xi Jinping deverão abordar o conflito na Ucrânia.

Brasil e China têm em comum o fato de não terem imposto sanções à Rússia e esperam desempenhar um papel de mediação no conflito.

Na semana passada, o presidente brasileiro disse que a Ucrânia “não pode querer tudo” e sugeriu a possibilidade de Kiev ceder o território da península da Crimeia, cuja anexação, em 2014, por Moscou não é reconhecida pelo governo ucraniano.

O porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, respondeu que não há razão para “abandonar um único centímetro do território ucraniano”, mas agradeceu “os esforços do presidente brasileiro para encontrar uma maneira de impedir a agressão russa”.

Lula propõe formar um grupo de países para trabalhar em uma solução negociada para o conflito causado pela invasão russa. Após seu retorno da China, esse grupo estará “criado”, prometeu.