Com o Reino Unido fora da União Europeia e com a Alemanha “dividida”, Macron tem se transformado no político do bloco mais atuante externamente, mas nem todos os seus aliados estão convencidos de que ele é o melhor defensor dos seus interesses, escreve a Bloomberg.
Nos últimos meses, o presidente francês Emmanuel Macron tem feito declarações mais duras em assuntos de política externa, seja em relação aos conflitos na Ucrânia ou em Israel, o veto sem cerimônias ao acordo entre a União Europeia e Mercosul e seus planos para África.
Seu polêmico comentário sobre botas da OTAN em terreno ucraniano em fevereiro rendeu uma recriminação instantânea e muito pública do chanceler alemão Olaf Scholz e irritou autoridades dos Estados Unidos que dizem em particular que tal medida poderia até mesmo provocar o risco de fomentar um confronto com Moscou, de acordo com um alto funcionário familiarizado com as discussões entre aliados, ouvido pela mídia.
“Ao forçar Berlim a descartar publicamente a possibilidade de enviar tropas, Macron conseguiu dissipar a ambiguidade persistente que existia sobre o paradeiro das linhas vermelhas dos aliados”, de acordo com um alto funcionário norte-americano.
As insinuações de Macron foram feitas para manter o presidente russo Vladimir Putin na dúvida, disse ele na época, mas responsáveis familiarizados com as discussões da OTAN sobre a Ucrânia afirmaram que podem ter tido o efeito oposto.
Comentando as palavras do presidente francês, o Kremlin indicou que tal desenvolvimento levaria inevitavelmente a um confronto militar direto entre a Rússia e a OTAN. O porta-voz do presidente russo, Dmitry Peskov, descreveu o simples fato de discutir a possibilidade de enviar “alguns contingentes para a Ucrânia” como uma novidade importante.
Em resposta às palavras de Macron sobre a falta de linhas vermelhas por parte da França em relação a Kiev, Putin indicou que Moscou também não teria linhas vermelhas contra Estados com essa abordagem, mas enfatizou que Paris poderia desempenhar um papel na resolução pacífica do conflito: “Nem tudo está perdido ainda“, afirmou.
Os comentários também não foram muito inteligentes do ponto de vista da segurança operacional – de acordo com funcionários separados que também falaram com a Bloomberg sob condição de anonimato – especialmente tendo em conta que vários países já, discretamente, têm algum pessoal na Ucrânia, admite a mídia norte-americana.
Muitos planos da Europa para resolver a escassez de armas na Ucrânia é emblemático da razão pela qual Macron irrita alguns aliados, uma vez que “os críticos do presidente francês dizem que ele fala mais do que age”.
A República Tcheca lidera uma iniciativa que prevê a aquisição de cerca de 800 mil munições em um futuro próximo de fontes fora da UE. Embora Macron tenha dito no mês passado que apoiava a iniciativa tcheca, a França ainda não deu uma contribuição financeira.
Contudo, desde o início do conflito, Paris tem ficado muito atrás dos seus aliados em termos de ajuda global enviada à Ucrânia, de acordo com o Ukraine Support Tracker do Instituto Kiel.
“Macron perdeu uma oportunidade de conquistar de forma decisiva a liderança europeia no início da invasão russa da Ucrânia. Ele agora está fazendo progressos para corrigir esse erro”, disse Rym Momtaz, pesquisador do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos baseado em Paris.