Quando estava a frente do ministério da agricultura a ex-ministra Tereza Cristina era exaltada pelo seu alto desempenho em relação às exportações do agro negócio. Entretanto, sua prática de defender o aumento do uso de agrotóxicos lhe rendeu nos bastidores do congresso nacional o apelido de Menina Veneno.
Mas quem é Tereza Cristina, a menina veneno? Líder da base ruralista e defensora ferrenha de afrouxar o uso de agrotóxicos, a mesma ganhou ainda mais notoriedade quando defendeu o Projeto de Lei 6299/2002, apelidado de “PL do veneno”, que flexibiliza as regras para o consumo de pesticidas, beneficiando o ruralismo. A ex-ministra, que na época foi questionada, ironizava que os agrotóxicos poderiam prejudicar a saúde da população
Tereza liberou 152 agrotóxicos em seus 100 primeiros dias.
Dos novos produtos que foram liberados, 28% deles já foram banidos ou não são permitidos na União Europeia, que tem uma legislação mais dura para tratar dos defensivos agrícolas. Mais uma vez, o levantamento é do Greenpeace e pode ser conferido no link.
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, falou sobre os novos produtos em audiência pública na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados. A ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, organização que reúne a bancada ruralista no Congresso, disse que muitos dos problemas ligados aos agrotóxicos acontecem porque os agricultores não utilizam os equipamentos de proteção de maneira correta.
Cristina também falou sobre o glifosato, agrotóxico classificado como potencialmente cancerígeno para humanos pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer. Segundo a ministra, para o glifosato ser abandonado é necessário encontrar um substituto.
Segundo José Eduardo Wanderley Cavalcanti, fundador e diretor da empresa Ambiental do Brasil, existem muitas “informações desencontradas” sobre o uso de pesticidas. Cavalcanti defende que grande parte dos produtos liberados são extensões de agrotóxicos que já eram utilizados.
Ele diz que os agrotóxicos estavam “represados” nas administrações anteriores e que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é lenta em suas análises dos produtos.
Para Cavalcanti, a discussão sobre os riscos cancerígenos do glifosato é uma questão “superada”.
Já o engenheiro agrônomo Warwick Manfrinato analisa que Tereza focou em “resolver problemas do setor agrícola” e “abriu a torneira de processos” de liberação de agrotóxicos.
Sobre casos de alimentos que chegam contaminados à mesa dos brasileiros, Manfrinato diz que estes casos mostram que há falhas nos órgãos de fiscalização.
“As notícias de que estamos recebendo no Brasil de que um grande número de alimentos estão chegando contaminados à mesa não é, obviamente, culpa do produto químico, mas é da cadeia, da sequência de responsabilidades que nós temos que observar.”
O engenheiro agrônomo ressalta que o Brasil precisa “ponderar” seu uso de pesticidas porque pode perder mercados no exterior por conta do uso intensivo de agrotóxicos.
Segundo a pesquisa de doutorado da professora da USP Larissa Bombardi, 30% de todos os agrotóxicos permitidos no Brasil são proibidos na União Europeia. Além disso, dois dos produtos mais vendidos no Brasil são banidos na UE.
Veneno no prato: que consequências o uso abundante de agrotóxicos pode trazer para o Brasil?
Durante um café da manhã com jornalistas, a ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento explicou a liberação recorde de agrotóxicos no país, fonte de inúmeras polêmicas e reclamações, como um “risco calculado”, negando alegações de que tais produtos poderiam ser comparados a venenos na comida do brasileiro.
Declarações à imprensa em Brasília na época, o chefe de Estado brasileiro afirmou que os pesticidas que vêm sendo liberados a um ritmo acelerado no país durante seu governo deverão substituir compostos mais antigos, já que, segundo ele, o Brasil não teria condições de “alimentar o mundo” sem utilizar os agrotóxicos.
Ministério da Agricultura encerrou 2021 com 562 novos agrotóxicos, gerando preocupação entre consumidores e provocando indignação entre ambientalistas. Mas que perigos estariam de fato por trás desses produtos?
Segundo o professor de Economia Ecológica Fábio Maia Sobral, da Universidade Federal do Ceará (UFC), o cenário que se apresenta no setor alimentício representa um “suicídio ambiental” para o Brasil, na medida em que o amplo emprego de variados agrotóxicos implicaria na redução de agentes polinizadores e, no médio ou longo prazo, no desaparecimento da capacidade de produção da agricultura brasileira.
O especialista afirma que, além do custo ambiental, o uso indiscriminado desses produtos pode, sim, trazer enormes riscos para a saúde da população, “o que significa que o que é ganho nos balanços das fazendas, das empresas agrícolas, é perdido pelo sistema de saúde através dos males causados”. E, fora isso, é preciso destacar também a possibilidade de o Brasil ser alvo de barreiras impostas por outros países a seus produtos.
“Então, você tem três fontes de perda imediata: o desaparecimento dos polinizadores, a elevação dos problemas de saúde pública e a possibilidade de barreiras fitossanitárias ao agronegócio brasileiro”, explica Sobral.
Ainda de acordo com o acadêmico, no que diz respeito às exportações brasileiras nesse setor, um dos mais importantes da economia nacional, é inevitável o surgimento de empecilhos às vendas de produtos agrícolas para o mercado internacional, já que, além da Europa, que já vem adotando duras medidas a esse respeito há algum tempo, a China, principal parceiro do Brasil, também vem mudando de postura em relação a questões ambientais.
“O governo chinês tem apresentado programas muito intensos de recuperação ambiental, e, agora, começa a agir no mundo também”, disse. “Em breve, nós teremos um problema também com a China.”
Para o professor da UFC, não há, atualmente, uma razão determinada para a liberação de tantos agrotóxicos no país.
“O que a gente observa é que, no fundo, é do interesse de grandes empresas, grandes corporações que produzem esses agrotóxicos e querem expandir suas vendas aqui no Brasil”, opinou. “Então, não é um interesse nem do agronegócio — mas eles não percebem isso —, muito menos da população brasileira e muito menos ainda da economia brasileira.”