Em meio à forte troca de farpas entre os presidentes, na segunda-feira (1º), por iniciativa do Brasil, os ministros das Relações Exteriores Mauro Vieira e Diana Mondino se falaram por telefone.
O chanceler brasileiro, confirmaram fontes dos dois países, queria expressar “surpresa e desagrado” pela decisão de Javier Milei de cancelar sua presença na cúpula do Mercosul, dia 8 de julho, no Paraguai, mas, no mesmo fim de semana, participar de evento da extrema direita junto a Jair Bolsonaro em Santa Catarina.
A resposta da chanceler argentina foi se desvincular das opções feitas por seu presidente, das quais, disse ao ministro brasileiro, sequer fora informada com antecipação. Naquele momento, ficou claro que a capacidade da diplomacia de conter uma escalada entre Milei e Luiz Inácio Lula da Silva chegará ao limite, escreve a coluna de Janaína Figueiredo no jornal O Globo.
Desde que o argentino assumiu o poder, em dezembro passado, o Itamaraty e o Palácio San Martin fizeram notórios esforços para controlar os danos causados pelas graves ofensas de Milei ao brasileiro na campanha de 2023. Visita oficial da chanceler à Brasília e carta enviada por Milei pedindo encontro bilateral, mas que não teve resposta de Lula.
O Brasil, por sua parte, apoiou Buenos Aires em organismos internacionais, e o Itamaraty realizou gestão frenética e eficiente para destravar o envio de gás ao mercado argentino no fim de maio, em meio a uma crise energética complexa para Milei.
“A esta altura, dizem fontes dos dois lados, não adianta discutir sobre quem tem mais culpa. A realidade é que atitudes dos dois chefes de Estado, e não de seus governos, levaram a situação ao perigoso estado atual”, escreve a colunista.
Os argentinos alegam que Milei tentou uma aproximação com Lula no encontro do G7 na Itália, e que o presidente brasileiro foi “frio e distante”, ao mesmo tempo, os insultos do líder argentino contra o petista, durante sua campanha, foram muito fortes.
“A escalada entre os dois presidentes é vivida com preocupação por diplomatas e empresários. Ficou claro que futuros desdobramentos estão em mãos de Lula e Milei. O brasileiro não cede um milímetro em sua posição de exigir um pedido formal de perdão. Lula, dizem fontes brasileiras, ‘está magoado’. Milei, como dizem seus colaboradores, está sendo Milei: passou da tentativa de um encontro ao ataque feroz. A impulsividade do presidente argentino não é novidade”, escreve a colunista.
E a situação pode piorar ainda mais se Milei reiterar as ofensas a Lula em território brasileiro, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro. A reposta do Brasil será dura, e Brasília pode, pela primeira vez desde 1906, convocar seu embaixador na Argentina, Julio Bitelli.
A última vez que isso aconteceu, comentam diplomatas brasileiros, foi por decisão do barão do Rio Branco, então ministro das Relações Exteriores do Brasil, em meio a tensões envolvendo a demarcação de fronteiras entre os dois países.