Daniela Mote de Souza Carneiro, ministra do Turismo do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é ligada à família de Juracy Alves Prudêncio, o Jura, condenado por chefiar uma milícia na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Conhecida como Daniela do Waguinho, ela se reelegeu deputada federal pelo União Brasil nas eleições do ano passado e assumiu a pasta do Turismo na segunda-feira (2).
Jura é ex-sargento da Polícia Militar e foi condenado a 22 anos de prisão pelos crimes de homicídio e associação criminosa. Ele já cumpriu cerca de 15 anos. A ministra do Turismo de Lula é casada com Waguinho, prefeito de Belford Roxo (RJ) e presidente estadual do União Brasil no Rio de Janeiro.
Daniela é próxima da esposa de Jura, conhecida como Giane Jura, ex-vereadora de Nova Iguaçu (RJ). Nas redes sociais de Giane, há vários registros de Daniela e Waguinho, inclusive em eventos com Lula, como a caminhada “Elas fazem o L pela Democracia”, ocorrida em 27 de outubro de 2022, em Belford Roxo.
Giane declarou apoio a Daniela em agosto do ano passado e pedia votos com frequência para a agora ministra. A esposa de Jura também fez campanha para Daniela em 2018, quando ambas apoiaram o então candidato Jair Bolsonaro (PL), à época no PSL. Jura participou dos eventos em apoio a Daniela naquele ano.
Jura chegou a ser nomeado para um cargo comissionado na Secretaria de Defesa Civil e Ordem Urbana de Belford Roxo após ter passado do regime fechado para o semiaberto, em maio de 2017. À época, Waguinho, marido da ministra de Lula, cumpria o primeiro mandato à frente da prefeitura do município.
Em janeiro de 2020, a Vara de Execuções Penais suspendeu o trabalho de Jura fora da cadeia. A medida cautelar foi tomada a pedido do Ministério Público após indícios de irregularidade no cumprimento do benefício, já que ele não comparecia ao local de trabalho.
Em um dos processos em que o ex-sargento foi condenado, a juíza Beatriz de Oliveira Monteiro Marques refere-se a ele como comandante de “milícia privada extremamente organizada para a prática de delitos graves, tendo como área de atuação vários municípios da baixada fluminense, como Belford Roxo, Queimados e Nova Iguaçu”, com atuações na “política, ameaçando moradores das localidades em que atuava a votarem nele”, já que Jura seria “detentor de poderio e de capacidade para arregimentar homens e armas dentro de sua estrutura criminosa, mesmo estando preso”.
O R7 procurou a assessoria de Daniela Carneiro no Ministério do Turismo. Em resposta à reportagem, a ministra afirmou que ligação política não quer dizer concordar com eventuais atividades criminosas.
“A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, durante sua campanha, em 2018, recebeu apoio em diversos municípios. Ela ressalta que o apoio político não significa que ela compactue com qualquer apoiador que porventura tenha cometido algum ato ilícito. Daniela Carneiro salienta que compete à Justiça julgar quem comete possíveis crimes. Quanto às nomeações na Prefeitura de Belford Roxo, a ministra enfatiza que não tem nenhuma ingerência, pois o ato é de competência exclusiva do Poder Executivo”, disse, em nota.
A defesa de Jura optou por não se manifestar.
Em 2010, defensores do ex-sargento criaram uma página na internet intitulada “Somos Jura”. De acordo com a descrição, o portal foi criado por moradores dos bairros Comendador Soares, Rosa dos Ventos e proximidades contrários à prisão dele. A última postagem da página é de outubro de 2014.
“Ele não passa unicamente de um cidadão comum, chefe de família, membro atuante da nossa comunidade. Não é surpresa para ninguém que, na profissão de Jura, jamais ele conseguiria agradar a todos, principalmente àqueles que andam a margem da lei, para quem a presença de qualquer policial já incomoda muito”, escreveram os apoiadores.
empresa envolvida em suposto caixa 2 do próprio marido
A ministra do Turismo, Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ), contratou nas eleições de 2022 e nas de 2018 uma empresa que estaria envolvida em suposto caixa 2 do próprio marido dela, o prefeito de Belford Roxo, Waguinho (União Brasil).
Daniela pagou R$ 370,8 mil em 2018 e R$ 64,4 mil em 2022 à Lastro Indústrias Gráficas LTDA, do empresário João Morani Veiga. Os dados são do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A Lastro é citada em denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) oferecida em dezembro de 2016 contra o prefeito Waguinho e seu então vice, Márcio Canella (União Brasil), por supostas irregularidades na arrecadação e gastos de recursos de campanha.
Segundo a Procuradoria, Waguinho e Canella teriam usado caixa 2 no pleito de 2016 para a aquisição de panfletos e revistas de campanhas.
O material foi apreendido antes mesmo da abertura das contas de campanha do prefeito e do vice, o que configurou o caixa 2. Apesar de citada, a Lastro não chegou a ser denunciada pelo MPRJ. O dono da empresa, contudo, confirmou ter produzido parte da propaganda.
“Os gastos não contabilizados são vultosos e capazes de influenciar a moralidade das eleições”, assinalou o Ministério Público.
Em março de 2018, a juíza eleitoral Elizabeth Saad acatou pedido do MPRJ e cassou os diplomas de prefeito e vice-prefeito de Waguinho e Canella, respectivamente. A sentença foi anulada, contudo, pelo desembargador Luiz Antonio Soares, que determinou a devolução dos autos ao 1º grau.
Já no último dia 10 de agosto, a juíza Ana Helena da Silva Rodrigues julgou extinto o proceso, sem resolução do mérito, uma vez que os mandatos de Waguinho e Canella para os quais foram eleitos em 2016 já haviam sido encerrados.