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Nasa volta à Lua depois de 53 anos

A Nasa lança o Programa Artemis, uma série de missões para testar tecnologias e levar com segurança homens e mulheres novamente ao satélite natural da Terra

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De Apollo a Artemis, 53 anos separam as duas expedições do homem à Lua. Enquanto as missões conduzidas entre 1969 e 1972 levavam o nome do deus grego do Sol e das artes, o programa Artemis foi batizado em referência à sua irmã gêmea, deusa da caça e da natureza. A mudança é apropriada. Nessa nova corrida espacial, as mulheres terão uma presença muito maior e já se planeja enviar a primeira delas ao nosso satélite natural. A mais cotada é a experiente astronauta Christina Kock. Além disso, o objetivo agora é muito mais que chegar ao destino, mas ocupá-lo, torná-lo uma base operacional e habitável. Nos próximos anos, a missão se desenvolverá no sentido de firmar a presença humana na superfície lunar. O primeiro vôo não tripulado, que também é a primeira incursão da NASA na Lua no século 21, vai acontecer nessa segunda-feira, 29. O foguete de 98 metros está programado para decolar às 8h33 (9h33 de Brasília), do Centro Espacial Kennedy (KSC), na Flórida.

DIVERSIDADE Christina Koch, astronauta americana, experiente, deverá ser a 1ª mulher a pisar em solo lunar (Crédito: Bill Stafford)

“Estamos vivendo uma reedição da corrida espacial, especialmente com uma disputa entre EUA e China, mas também envolvendo outros países, com investimento de empresas estatais e privadas”, diz Daniel Rutkowski Soler, astrofísico e gerente de atividades de astronomia do Museu Aberto de Astronomia (MAAS). “E o programa Artemis está na vanguarda dessa disputa”. Nessa nova corrida espacial há ambições renovadas e muito mais tecnologia disponível, o que permite uma aceleração de prognósticos. A segunda fase da Artemis, marcada para 2024, já prevê uma viagem tripulada e um sobrevôo lunar. E, em 2025, acontecerá a missão que permitirá que os primeiros astronautas pisem na Lua depois de cinco décadas, incluindo a primeira mulher e o primeiro negro.

As missões Artemis vão contar com um complexo veicular reutilizável chamado Space Launch System (SLS), composto pelo lançador e pela cápsula Orion. Juntos, eles pesam 2,6 mil toneladas. Seus quatro motores RS-25, com dois aceleradores de cada lado, vão gerar impulso 15% maior que o Saturno V, do programa Apollo. Dois minutos depois de seu lançamento, os aceleradores cairão no Atlântico. Após oito minutos, o núcleo principal do foguete se desprenderá e a cápsula Orion seguirá viagem. A bordo, de acordo com Melissa Jones – diretora de recuperação da Artemis I –, serão enviados alguns manequins e alguns torsos, que simulam tecidos e órgãos humanos. O objetivo é ajudar a verificar como a exposição à radiação e a aceleração do veículo podem afetar o corpo humano, em missões futuras.

Após completar a órbita da Terra a cápsula Orion seguirá para a Lua e, depois de se aproximar, começará seu retorno. A missão tem duração prevista de 42 dias. Enquanto as missões Apollo deram acesso a regiões limitadas da Lua, as missões Artemis deverão ser muito mais abrangentes. Segundo Soler, a construção de uma base na Lua passa a ser estratégica. “É muito mais barato e fácil lançar foguetes a partir da Lua, do que a partir da Terra, pois, a força da gravidade a ser vencida é seis vezes menor e não há o atrito com a atmosfera, já que a Lua não possui”, explica. De fato, a ideia é que a órbita da Lua receba uma espécie de ‘estação espacial’ menor, chamada Lunar Gateway (Portão Lunar), que servirá de ‘trampolim’ para o lançamento de missões rumo a Marte. Após o retorno da missão, todos os dados serão analisados, a fim de garantir que seja possível o planejamento seguro e envio da Missão Artemis II, que será tripulada.

Muito além de um projeto de exploração científica, o programa Apollo era uma campanha para atestar a superioridade norte-americana em relação à antiga URSS. Já o programa Artemis não está limitado a uma disputa de ego entre essas grandes potências. O objetivo da missão é estabelecer uma presença humana sustentável, com espaçonaves construídas segundo padrões internacionalmente reconhecidos, para acomodar diferentes sistemas. Outro ponto bem diferente entre as duas missões é o custo: todas as edições da Apollo, juntas, somaram aproximadamente US$ 107 bilhões em investimentos. No Artemis, a NASA já investiu US$ 35 bilhões, antes mesmo de a missão teste não tripulada ser lançada.