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Nomeação de Mandetta na saúde da capital numa eventual vitória de Rose Modesto gera indignação do PT

Possível Nomeação de Mandetta para Saúde em Caso de Vitória de Rose Modesto Gera Polêmica e Pode Afastar Alianças

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Fontes ligadas à campanha de Rose Modesto (União Brasil) revelaram que, se eleita prefeita de Campo Grande, Luiz Henrique Mandetta assumirá a Secretaria de Saúde. A negociação teria sido costurada pela cúpula nacional do União Brasil, com a intermediação de ACM Neto, e contou com a amizade de longa data entre Mandetta e Rose para viabilizar o acordo. Porém, essa escolha pode gerar mais problemas do que benefícios para a candidata.

A possível nomeação de Mandetta, ex-ministro da Saúde no governo Bolsonaro, desperta críticas e inquietações, principalmente entre apoiadores de Rose que veem a aliança com o PT – partido que integra o arco de apoio da candidata – com desconfiança. O PT também estaria de olho na pasta da saúde como parte dos acordos de composição, o que levanta questionamentos sobre o quanto a decisão de indicar Mandetta pode enfraquecer essas negociações e gerar descontentamento entre os aliados de esquerda.

Além disso, Mandetta carrega um histórico controverso. Sua passagem pelo Ministério da Saúde foi marcada por embates com o presidente Jair Bolsonaro e pela polarização política em torno das medidas de combate à pandemia, o que o tornou uma figura divisiva. Para Rose, que busca se firmar como uma alternativa para Campo Grande, a inclusão de Mandetta pode ser vista por muitos eleitores como uma incoerência, já que a candidata tenta construir uma imagem de renovação e distanciamento dos desgastes políticos.

CASO GISA

O escândalo Gisa marcou a gestão de Mandetta como secretário municipal de Saúde de Campo Grande. Conforme a CGU (Controladoria-Geral da União), houve favorecimento no processo de implantação do sistema, fraudes e falhas contratuais.

Lançado para modernizar o sistema de saúde da Capital, o programa nunca funcionou e serviu para desviar R$ 8,1 milhões dos cofres públicos – o valor atualizado é de R$ 14 milhões. A Prefeitura de Campo Grande foi condenada a todo o dinheiro ao Ministério da Saúde.

De acordo com denúncia do MPF, Mandetta atuou para garantir a vitória do Consórcio Contisis, composto por três empresas, mas que não tinha condições de implantar o sistema e subcontratou a empresa portuguesa Alert. Apesar do suposto desvio milionário ter ocorrido em 2010, a Polícia Federal começou a investigar Mandetta em 2015.

Quem matou Simeão Vilhalva?

Ex-ministro Luiz Henrique Mandetta é apontado por jornal tendo papel importante no embate que resultou na morte do indígena. Além de ser a maior autoridade a servir de testemunha em favor dos fazendeiros

Dia 29 de agosto de 2015. Há exatos três anos, morria o guarani-kaiowá Simeão Fernandes Vilhalvaem um território de conflito entre indígenas e fazendeiros. O assassinato aconteceu na terra reivindicada como tradicional, Ñanderu Marangatu, na região de Antônio João, há 402 km de  Campo Grande. Simeão tinha 24 anos quando foi encontrado morto na beira de um córrego da fazenda Fronteira com o rosto perfurado por uma bala de arma de fogo. A ação penal pela morte do indígena foi ajuizada ainda em 2015 pelo MPF (Ministério Público Federal), mas foi só em janeiro deste ano que a denúncia criminal foi recebida pelo juiz.

A morte de Simeão aconteceu uma semana depois das ocupações feitas pelos indígenas na TI (Terra Indígena) Ñanderu Marangatu. Na época, os guarani-kaiowá ocuparam as fazendas Primavera, Cedro, Fronteira e Brasil, que ficam sobre a terra indígena, e o Cimi declarou que restavam apenas duas fazendas para serem ocupadas na íntegra pela comunidade.

A primeira fazenda a ser ocupada foi a Fazenda Primavera, houve um ataque e, ao invés de recuar, os indígenas decidiram entrar em outras quatro propriedades rurais como forma de sinalizar a resistência. Ñanderu Marangatu foi palco de assassinatos contra outras liderançasGuarani-Kaiowá, caso de Marçal de Souza, morto em 1983; Dom Quitito, em 2000; Dorvalino, em 2005 e Hamilton Lopes em 2012.

Dias após o assassinato, um laudo entregue à PF (Polícia Federal) confirmou que o guarani-kaiowá havia sido morto no dia 29 de agosto por um disparo de arma de fogo. O laudo desmentiu declarações de um deputado e do Sindicato Rural do município, que diziam que o indígena já estava morto antes do conflito na fazenda.

Após a morte de Simeão e a retomada de parte do território, a comunidade vive melhor, afirma o missionário Matias Rempel. “Simeão foi plantado como semente. Agora a comunidade planta suas sementes, celebra sua cultura. Confinado ninguém vive, é preciso de liberdade e liberdade para o povo Kaiowá é a sua terra de berço. Apesar disso, ainda falta muito para conseguir dignidade plena”, afirma. O missionário explica que ainda hoje a comunidade tem dificuldade no acesso a políticas públicas básicas e que volta e meia o conflito volta ao cenário de Ñanderu Marangatu.

O ENVOLVIMENTO E A TESTEMUNHA FALSA DE MANDETTA

O laudo da morte de Semião Fernandes Vilhalva, de 24 anos, foi entregue para a PF (Polícia Federal) e confirma que o indígena morreu no dia 29 agosto, durante retomada da Fazenda Fronteira por fazendeiros. Ele foi vítima de disparo de arma de fogo na cabeça, na fazenda que fica localizada em Antônio João, a 431 quilômetros de Campo Grande.

Semião foi vítima de um tiro na cabeça e segundo o delegado Bruno Maciel, só é possível precisar que a arma usada era de pequeno calibre. No dia 30, o Sindicato Rural de Antônio João informou que o indígena já estava morto há um dia e que o cadáver teria sido baleado após o confronto. A fazenda é de propriedade da presidente do sindicato, Roseli Maria Ruiz.

Também no dia 30, o deputado federal Luiz Henrique Mandetta confirmou que esteve na fazenda e que o índio já estava morto antes do conflito entre indígenas e fazendeiros. “Os proprietários entraram no peito e os índios saíram após uma batalha campal. (…) Só que o conflito migrou para outra sede e a troca de tiros rolou de ambos lados. (…) Ouviu-se um tiro numa mata a 800 metros e dez minutos depois os índios trouxeram um corpo que diziam ter sido alvejado. Me coloquei como médico e fui até o local. O cadáver de um homem já em rigidez cadavérica foi jogado na estrada”, diz um dos trechos do relato.

No boletim de ocorrência registrado pela Polícia Civil após o crime, consta a informação de que Semião estaria bebendo água em um córrego quando foi atingido pelo tiro. Não há precisão sobre a distância entre a vítima e o autor dos disparos e nem relato de testemunhas sobre quem efetuou o tiro. O laudo sobre assassinato de indígena desmente o deputado e sindicato!