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Real Digital: o que é a nova tecnologia do Banco Central brasileiro?

O que vai mudar a partir do lançamento do Real Digital, a moeda 100% virtual do governo brasileiro?

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Desde o lançamento em 2008 do Bitcoin, a criptomoeda mais conhecida do mundo, economistas no mundo inteiro apontaram para um fato inevitável: o futuro seria marcado pelo surgimento de novas de formas de dinheiro digital.

Deste modo, para evitar os riscos de moedas que são emitidas por agentes do mercado financeiro e não pelos bancos centrais, como o próprio Bitcoin, os países precisariam se adaptar para a nova realidade.

O setor bancário brasileiro está prestes a dar esse passo. O Brasil lançará em 2023 o Real Digital, uma moeda virtual que ficará sob controle do Banco Central (BC) brasileiro. Países como China, Suíça e Uruguai já estão aderindo à implementação, enquanto o Brasil estuda o seu modelo visando o lançamento em um futuro próximo.

Em entrevista ao podcast Jabuticaba Sem Caroço, da Sputnik Brasil, as jornalistas Bárbara Pereira e Francini Augusto conversaram com Marilyn Hahn, especialista em finanças e economia, e Bernardo Srur, diretor-presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto).

O que é Real Digital?

As moedas digitais de bancos centrais (CBDC, na sigla em inglês) estão sendo desenvolvidas em cerca de 90 países, com a promessa de reinventar a política monetária internacional. Em razão da precocidade do fenômeno, as consequências do advento das moedas digitais ainda são objeto de estudo.

No entanto, como garantiu Marilyn Hahn, é possível assegurar de antemão algumas características sobre o dinheiro digital brasileiro que moldará o futuro econômico do país. Ela frisou, por exemplo, que o Real Digital não será como uma criptomoeda qualquer.

O Banco Central do Brasil já frisou reiteradas vezes que o Real Digital não será mais uma criptomoeda. As características da tecnologia ainda não estão definidas, e deverão ser melhor esclarecidas ainda no primeiro semestre, no lançamento do projeto piloto para testes com a privacidade e segurança da rede.

É, na prática, uma extensão da nossa moeda em papel“, disse ela, explicando que “quando o BC emite papel moeda, existem várias formas de emissão, como o papel e o PIX, que é digital”.

“O Real Digital tem como objetivo criar uma nova estrutura bancária a partir de blockchain. Isso facilita romper uma série de barreiras ao oferecer maior padronização do sistema, mais alcance, e maior rastreabilidade do dinheiro, que são os pontos mais importantes para o BC e para o consumidor”, disse ela.

Bitcoin é ‘completamente diferente’

Existe uma confusão quando o assunto é Real Digital e criptomoedas. Muitas vezes, a opinião pública tende a colocar tudo no mesmo cesto, como se fossem a mesma coisa.

Existem semelhanças, como a existência de uma rede onde esse ativo trafegará pela emissão de tokens (representações digitais) e o uso dos chamados “contratos inteligentes” (smart contracts), programas que executam transações de forma automática assim que determinadas condições são atendidas.

Entretanto, como afirmou Bernardo Sur, “criptomoedas como Bitcoin, por exemplo, são completamente diferentes” do projeto envolvendo o Real Digital brasileiro. Ele explicou que a primeira grande diferença “é forma de valorização e o seu lastro”.

“O Bitcoin valoriza pela sua segurança da sua rede, e o seu valor é dado pelo mercado por meio de compra e venda. O Real Digital será emitido pelo Estado, existe um ente que controla sua emissão e propagação”, comentou.

Ele ainda apontou que o “bitcoin é descentralizado. Portanto, sem controle de órgão monetário. Ao passo que o Real Digital terá o BC como agente, que controlará esse ativo“.

O que o Brasil tem a ganhar com a tecnologia?

Ambos os analistas consultados pela Sputnik Brasil apontaram que existem muitos benefícios quando o assunto é o desenvolvimento de novas formas para uso do dinheiro digital.

Um deles é a redução do custo de criação e manutenção de contratos financeiros por meio de padronização e interoperabilidade. Outro é a chamada composição de serviços financeiros, ou composibilidade.

A composibilidade é um conceito. Os serviços financeiros são regidos por programas de computador que verificam transações, liquidam valores, e realizam operações pré-determinadas, como transferências imediatas após a assinatura de um contrato.

O Real Digital, embora não seja uma criptomoeda, deverá ser compatível com funções avançadas como essas.

Para Marilyn Hahn, “a ideia do BC é fomentar novas ideias de negócio para alcançar novos contratos e novos tipos de negociações. Existem múltiplas possibilidades para o uso do Real Digital, mas, em um primeiro momento, ele será utilizado para fazer políticas monetárias”.

Ela explicou que o Real Digital estará “integralmente conectado on-line para transações digitais”. Isso significa, na prática, “facilidade maior, e menos custos, entre transferências entre bancos“.

“O PIX é um grande benefício, e a gente ainda está apredendo bastante com ele. O Real Digital vem mais ou menos nessa linha, para dar maior transparência, reduzir custos do sistema, prevenir lavagem de dinheiro e corrupção”, afirmou.

Inevitáveis crimes cibernéticos

Embora o combate aos crimes cibernéticos seja uma prioridade no projeto do BC do Brasil, a entidade ainda não confirmou se usará tecnologia blockchain para proteger o Real Digital dos criminosos cibernéticos.

Embora o conceito das CBDCs tenha vindo do mundo das criptomoedas, os projetos em andamento no mundo, no geral, utilizam uma tecnologia de proteção chamada Distributed Ledger Technology (DLT).

DLT e Blockchain têm em comum o conceito de um livro de registro de transações, um banco de dados. Toda blockchain é DLT, mas nem toda DLT é blockchain. Elas diferem, sobretudo, na questão do acesso aos dados em uma determinada rede. Para a tecnologia blockchain, o acesso é público.

Marilyn Hahn avalia que independente da tecnologia, ela deve dar resiliência cibernética ao projeto, embora seja improvável determinar os curso que tomarão as fraudes e golpes cibernéticos, “cada vez mais engenhosos”. O que importa, por outro lado, “é que o dinheiro está lastreado”.

A especialista espera que, neste primeiro momento do projeto, o BC possa trabalhar na elaboração de “políticas monetárias que estejam de maior acordo com as demandas da população e da economia brasileira“, pois isso “permitirá a entrada de novos agentes no mercado”.