A candidatura de Rose Modesto à prefeitura de CampoGrande em 2024 reacendeu polêmicas sobre seu histórico político, incluindo o voto favorável à prisão do então deputado federal Daniel Silveira, em 2021. À época, a decisão da Câmara dos Deputados manteve a prisão de Silveira com 364 votos a favor, 130 contra e três abstenções, após ele ser detido por publicar um vídeo com críticas e ofensas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e defender o Ato nº 5 (AI-5), uma medida drástica do Regime Militar.
Rose Modesto, que era deputada federal pelo PSDB, votou pela manutenção da prisão ao lado de outros parlamentares de Mato Grosso do Sul, incluindo Beto Pereira (PSDB), Bia Cavassa (PSDB), Dagoberto Nogueira (PDT), Fábio Trad (PSD) e Vander Loubet (PT). A decisão foi alinhada ao entendimento do STF, que considerou as declarações de Silveira uma tentativa de intimidar a Corte e abalar o Estado Democrático de Direito.
O episódio, que já havia sido tema de debate acalorado na época, voltou ao centro das discussões durante as eleições municipais de 2024, onde Rose Modesto tenta consolidar sua base eleitoral entre o eleitorado conservador. A candidata, que busca se desvincular de qualquer associação com pautas de esquerda, vem enfrentando críticas e questionamentos sobre a coerência de sua posição, especialmente porque agora é apoiada por lideranças petistas e outros grupos de esquerda na capital.
Contradições e Alinhamentos
Apoiada pelo seu antigo colega de PSDB, o deputado estaduao João Henrique Catan, Rose tenta se apresentar como uma alternativa de centro-direita, na tentativa de atrair os eleitores que apoiam Jair Bolsonaro e rejeitam o progressismo. Entretanto, o fato de ter votado pela prisão de Silveira em 2021 e receber apoio de figuras emblemáticas do Partido dos Trabalhadores (PT) e do campo progressista levanta dúvidas sobre sua real afinidade com as pautas conservadoras que predominam entre parte significativa do eleitorado de Campo Grande.
O apoio a Rose Modesto é visto com desconfiança entre os eleitores da direita, que enxergam incoerência em uma candidatura que agrega desde antigos aliados do PSDB até lideranças do PT e PSOL, ao mesmo tempo que tenta se distanciar de figuras como Adriane Lopes, atual prefeita e candidata à reeleição, apoiada por Bolsonaro. Essa dualidade na composição do seu grupo de apoio tem sido explorado pelos apoiadores da campanha adversária para enfraquecer sua credibilidade junto ao público conservador.
Repercussões do Caso Daniel Silveira
O caso Daniel Silveira foi um dos episódios mais marcantes do embate entre os poderes Legislativo e Judiciário nos últimos anos. Silveira foi condenado por crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A decisão do STF, que manteve a condenação de Silveira a 8 anos e 9 meses de prisão mesmo após um perdão concedido pelo então presidente Jair Bolsonaro, teve grande repercussão política e jurídica.
A intervenção de Bolsonaro no caso, utilizando o dispositivo da graça constitucional para conceder perdão a Silveira, foi posteriormente anulada pelo STF, que alegou desvio de finalidade e incompatibilidade com os princípios da impessoalidade e moralidade administrativa. A situação reacendeu debates sobre liberdade de expressão, inviolabilidade parlamentar e os limites do indulto presidencial.
Para Rose Modesto, a associação com o voto pela prisão de Silveira, somada ao apoio de lideranças progressistas em sua candidatura, pode ser um fator de desgaste no segundo turno, em um contexto em que o eleitorado busca coerência entre discurso e práticas políticas.
Dilema eleitoral
A tentativa de Rose Modesto de se vincular a valores conservadores pode ser prejudicada por seu histórico no Congresso e pelos apoios que tem recebido. Enquanto tenta se posicionar como uma opção viável para o eleitorado de direita, sua relação com setores da esquerda em Campo Grande cria uma ambiguidade que pode custar caro em uma disputa eleitoral polarizada.