Às vésperas de sua visita à América Latina, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov afirmou que a região, tanto quanto a Rússia, possui vantagens competitivas no contexto dos processos objetivos de formação de uma ordem mundial multipolar.
Em recente artigo publicado no portal Buzos, Lavrov compartilhou reflexões sobre as perspectivas das relações da Rússia com a América Latina e Caribe no atual contexto geopolítico.
“A situação no mundo continua extremamente tensa e em muitos aspectos continua se deteriorando. A principal razão para isso é a insistência do chamado Ocidente histórico – liderado pelos EUA – em manter seu domínio global, impedir o desenvolvimento e a consolidação de novos centros de poder”, afirmou o chanceler.
De acordo com ele, os EUA continuam tentando impor uma ordem global unipolar e neocolonial à comunidade internacional, o que, nas palavras do presidente russo Vladimir Putin, significa o mesmo que “cobrar um verdadeiro tributo da Humanidade, extrair uma renda hegemônica”.
Lavrov argumenta que diversos povos no mundo já sentiram as consequências da imposição norte-americana nesta antiga lógica hegemônica, tais como Cuba, Venezuela, Iugoslávia, Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria.
Mas, para ele, o cenário geopolítico em rápida mudança oferece novas oportunidades para expandir a cooperação mutuamente benéfica entre a Rússia e os países da América Latina, que nas palavras do ministro, “estão desempenhando um papel cada vez mais visível no mundo multipolar“.
A cooperação russa com a região latino-americana é baseada em uma abordagem não ideologizada e pragmática, sem se dirigir contra qualquer outro Estado, destaca o chanceler. De acordo com a orientação da política externa do Kremlin, a Rússia não segue a política das velhas metrópoles coloniais.
“Não dividimos os parceiros em ‘nossos e deles’, não os colocamos diante de um dilema artificial: conosco ou contra nós. Somos pela unidade e diversidade dos países latino-americanos e caribenhos. Na diversidade, eles são fortes, politicamente coesos e economicamente sustentáveis”, defendeu Lavrov.
No espírito da associação estratégica, o chanceler destaca as relações com países como o Brasil, Venezuela, Cuba e Nicarágua, os quais a delegação russa vai visitar na segunda quinzena de abril.
“Estamos prontos para desenvolver contatos multifacetados no nível de Chefes de Estado e de Governo, parlamentos, serviços diplomáticos e outros ministérios e agências. Também estamos abertos a ampliar a cooperação em bases multilaterais, em primeiro lugar no âmbito do diálogo da Rússia com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos [CELAC]”, destacou.
Nos últimos anos, os tratados entre a Rússia e a América Latina e Caribe se expandiram consideravelmente abrangendo um total de 27 Estados da região — atualmente toda a América do Sul e praticamente toda a América Central isentam de visto os cidadãos russos.
Apesar das sanções impostas à Rússia e da pressão política no contexto do conflito ucraniano, as exportações totais para os países latino-americanos e caribenhos cresceram 3,8% em 2022 e os embarques de fertilizantes e derivados de petróleo também aumentaram.
“Tanto a Rússia quanto a América Latina têm suas vantagens competitivas no contexto dos processos objetivos de formação de uma ordem mundial multipolar” afirmou Lavrov que salientou ainda a importância da complementaridade das economias russa e latino-americana.