As sanções antirrussas e o uso global do dólar americano como arma para influenciar as economias de outros países geram riscos para China, opinam economistas citados por South China Morning Post.
No entanto, há especialistas que pensam que Pequim corre riscos se sair do sistema monetário centrado no dólar devido aos laços estreitos com a economia americana.
A favor do yuan, contra a hegemonia do dólar
“O uso do dólar como arma dos Estados Unidos prejudicou ainda mais a sua credibilidade, transformando a moeda em um ativo de risco cada vez mais elevado”, observou Zhang Monan, analista do Centro Chinês para Intercâmbios Econômicos Internacionais com sede em Pequim.
“Além disso, a incerteza criada pelas sanções financeiras secundárias gera um efeito assustador. Ela obrigará muitos países a pensar sobre como evitar tais riscos”, acrescentou.
Outro economista, Ding Yifan, destacou que o uso do dólar como arma viola as normas do direito internacional e adverte que a China pode converter-se em uma vítima da moeda dos EUA. Segundo Ding, Pequim deve reagir a esta situação, por exemplo, desfazendo-se das obrigações do Tesouro dos EUA.
Entretanto, no final de 2022, o nível de investimento de Pequim nas obrigações dos EUA foi o mais baixo dos últimos 12 anos.
Por outro lado, o conflito ucraniano e as restrições antirrussas causaram o crescimento da desdolarização, na qual o yuan chinês desempenha um papel importante. De acordo com os dados do Swift, a taxa de utilização do yuan nos pagamentos internacionais aumentou de 2,05% em dezembro de 2020 para 3,91% dois anos mais tarde.
“No entanto, a moeda chinesa está sub-representada em comparação com a porcentagem de Pequim no produto interno bruto [PIB] global”, considera Zhang. “Não se trata de saber se o yuan pode desafiar o dólar, mas de quanto tempo pode durar a hegemonia” da moeda americana, disse.
“O que a China faz serve para evitar os riscos do dólar dos EUA e aumentar sua capacidade de se proteger”, enfatizou Zhang.
Desacoplamento entre Pequim e Washington: benefícios vs. ameaças
Entretanto, as economias da China e dos EUA estão intimamente ligadas, e é por isso que alguns especialistas consideram que Pequim não tem interesse em dissociar-se de Washington.
“A Rússia foi forçada a deixar o dólar americano […] é uma realidade que de alguma forma vivemos no sistema do dólar dos EUA, e isso não mudará a curto prazo”, afirmou um economista proeminente sob condição de anonimato. “Em geral, a China obtém mais benefícios do sistema do dólar americano do que perdas”, acrescentou.
Por este motivo, duvida que o cenário de desvinculação seja possível em um futuro próximo. “Por que temos que nos tornar hostis contra os EUA? O que a China ganha com isso? Há muitas coisas, como as sanções financeiras, que não terão lugar se os dois países se reconciliarem”, destacou o especialista.
Além disso, o economista duvida que a moeda chinesa possa competir em pé de igualdade com o dólar, sublinhando que o yuan é “um tipo de moeda regional” usada principalmente na Ásia.