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Sofrendo com chuvas, Rio Grande do Sul passou por quatro tragédias em menos de um ano

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O estado do Rio Grande do Sul decretou situação de calamidade pública nesta quarta-feira, 1º, após as fortes chuvas que atingiram a região deixarem ao menos 37 pessoas mortas, milhares de desalojados e 134 municípios sofrerem algum tipo de dano relacionado às tempestades. O desastre é classificado como de “grande intensidade” pela decisão.

Em menos de um ano, o Rio Grande do Sul sofreu com outras três chuvas similares. Em junho de 2023, a passagem de um ciclone extratropical deixou 16 mortos. O fato veio a se repetir em setembro, quando 54 óbitos foram registrados. Em novembro do mesmo ano, ocorreu uma terceira tempestade que fez outras cinco vítimas fatais.

Nas três ocasiões, assim como nos recentes temporais desta semana, o rio Taquari transbordou e inundou as cidades que ficam próximas de suas margens como Lajeado, município que fica a cerca de 115 quilômetros de Porto Alegre.

Apesar de afetado pelas quatro chuvas, o Vale do Taquari não é a única região que sofre problemas no estado. Durante a manhã desta sexta-feira, 3, o rio Guaíba subiu 4,61 metros e inundou ruas e uma rodoviária da cidade de Porto Alegre, conforme a SEMA (Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura) do estado.

Além disso, trechos de rodovias foram interditadas e pontes cederam com a proporção das chuvas e inundações. Os temporais são consequência de efeitos atmosféricos como o El Niño, que aumenta a precipitação no Sul do Brasil.

Na região Sul, há um bloqueio atmosférico que atua como uma barreira que impede o deslocamento de nuvens ao Sudeste, como explica Ana Maria Pereira Nunes, pós-doutoranda do Departamento de Ciências Atmosféricas da USP (Universidade de São Paulo). “Ao mesmo tempo, há o transporte de calor e umidade no Rio Grande do Sul, o principal ingrediente para precipitação”, esclarece a especialista.

Frequência de chuvas

Os temporais deste ano se assemelham aos observados em 1941, quando o estado sofreu com chuvas de proporções similares. Entretanto, as cidades eram menores na época, como explica Joel Avruch Goldenfum, diretor do IPH (Instituto de Pesquisas Hidráulicas) da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Em 1941, os municípios do Vale do Taquari eram pequenos vilarejos e, atualmente, já constituem cidades de 100 mil habitantes. “Há muito mais ocupações em áreas que seriam de risco de inundação, além de industrial e agrícola, o que faz a água não encontrar superfícies permeáveis”, afirma o diretor do IPH.

Apesar disso, Goldenfum explica que o El Niño e as mudanças climáticas também influenciam nas chuvas da região. “Os eventos críticos estarão cada vez mais comuns, embora a gente precise de mais dados para chegar a conclusão de quão frequentes”, especula o docente da UFRGS. “Não quer dizer que isso irá acontecer todos os anos.”

Ana Maria Pereira Nunes aponta que as mudanças climáticas dão mais energia para a redistribuição de calor do planeta, como as nuvens e frentes frias. “O sistema terrestre está sempre buscando equilíbrio.”

Preparação para inundações

Com um cenário de chuvas similares às que são observadas atualmente no Rio Grande do Sul, Goldenfum aponta que é necessário que as cidades se preparem para tais eventos. “Precisamos trabalhar com a população. Muitas pessoas não sabem que estão em áreas de risco e outras creem que será uma ‘inundação simples’”, pontua o especialista.

Para o diretor do IPH, deve haver uma capacitação da população geral e de agentes públicos. “A partir daí, podemos identificar as áreas de risco e determinar qual o uso mais adequado. Tem regiões que poderiam conviver com inundações, como estacionamentos e parques lineares que vão ao longo do rio”, esclarece Goldenfum, acrescentando que não há como reduzir a grandeza dos eventos climáticos, apenas reduzir seus danos.

Além disso, o docente da UFRGS também compreende que existem medidas estruturais, como obras que podem ser utilizadas para proteger determinadas áreas. “Isso é possível, embora tenha efeitos limitados e muitas vezes resolve aquela região, mas transfere o efeito para outro lugar”, diz o especialista, citando diques como exemplo.

*Com informações da Agência Brasil e do Deutsche Welle

**Estagiário sob supervisão