Com o BRICS consolidado como uma força global do multilateralismo, as atenções se voltam para o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), chamando popularmente de Banco do BRICS.
O banco é uma importante entidade de financiamento de projetos de infraestrutura e obras sociais para os países membros do BRICS, é um dos atrativos que desperta o interesse de países a integrar o grupo e se tornou um contraponto a entidades como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Ele financia projetos importantes, como a modernização e expansão da rede ferroviária na Rússia para aumentar a eficiência do transporte; projetos de infraestrutura sustentável em Xangai, na China, voltados para o desenvolvimento urbano sustentável, com transporte público e infraestrutura verde; e financiamento de parques eólicos na África do Sul para aumentar a capacidade de energia limpa e sustentável no país.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas enfatizam que a sustentabilidade e projetos que auxiliam nesse processo têm sido um dos principais focos do banco.
Segundo Maria Elena Rodriguez, professora de relações internacionais da PUC-Rio e codiretora do BRICS Policy Center, a maioria dos projetos financiados pelo NDB tem a ver sobretudo com transição energética.
“A maioria dos projetos que o banco financia tem a ver com transição energética, infraestrutura que ajude nesse processo da transição, água e saneamento, proteção ambiental, ações referentes para mitigar a mudança climática. O banco tem esse diferencial que é muito importante.”
No recorte do Brasil, ela afirma que o NBD tem muitos projetos voltados para energia, infraestrutura de transporte e infraestrutura social, como obras de saneamento em Parauapebas, no Pará.
“Há muitos projetos também de educação, por exemplo. Em Teresina, existem vários projetos de educação com a prefeitura [da capital do Piauí]. No Pará tem muitos também. Muitos projetos de infraestrutura sustentável, tem planos [projetos] para Curitiba […] Há muitos projetos de energia solar.”
Ela acrescenta que projetos de infraestrutura social são tão importantes quanto obras.
“A gente sempre pensa em infraestrutura como obras, grandes obras, mas quando falamos de infraestrutura social, a gente tem tudo a ver com hospitais, escolas, que eu acho que isso é super importante para pensar também no desenvolvimento.”
Atualmente, a Índia está engajada na transição energética com foco sobretudo na energia solar por meio do Parque Energia Solar, em Rewa, um dos maiores do mundo, que contribui significativamente para a capacidade de energia renovável da Índia e tem financiamento do NDB.
Milena Megre, cientista política, especialista em energia e copresidente no think tank T20 em Transição Energética na presidência brasileira do G20, destaca que a Índia tem colocado ambições bem altas no setor energético.
“Não é uma ambição que fica só no papel. O governo indiano tem, de fato, investido bastante, e para além das renováveis. Eles investem muito em infraestrutura tecnológica inovadora. Então, a Índia focou no projeto de Smart Cities, que são cidades inteligentes, e no Smart Grid também, que são redes inteligentes.”
Megre afirma que a Rússia também está empenhada na transição energética, embora para Moscou a questão das renováveis de solar e eólica seja um pouco mais difícil.
“Tem capacidade solar no sul da Rússia? Tem, mas ainda assim não é o mesmo aproveitamento que a gente teria em outros países […] mas a Rússia, por outro lado, investe bastante em energia hidráulica, [situação similar] às hidrelétricas aqui no Brasil.”
Ela acrescenta ainda que o NDB também investe em projetos de energia renovável no Egito, que é um membro, e também Bangladesh, que não é membro.
“Há um portfólio bem extenso no próprio site do Banco de Desenvolvimento do BRICS que mostra todo o investimento deles. Ima dessas categorias do financiamento é energia limpa e eficiência energética. E eficiência energética é uma pauta muito forte no âmbito do setor energético do BRICS. Então eles financiam, por exemplo, um projeto de usina eólica no Brasil: a Serra da Palmeira [complexo eólico no estado da Paraíba]; e de expansão da infraestrutura em São Paulo.
Questionado sobre os principais projetos para a China, o chefe adjunto da diretoria do Fórum Internacional dos Municípios do BRICS, Henrique Domingues, afirma que o Banco do BRICS precisa muito mais da China do que a China precisa da entidade.
“A China tem o projeto da Nova Rota da Seda: um cinturão, uma rota. A partir no âmbito desse projeto, a China financia uma série de obras de infraestrutura com o único objetivo de criar condições para que os países em desenvolvimento consigam assimilar toda essa produção toda a indústria chinesa a capacidade industrial que a República Popular da China demonstra hoje.”